terça-feira, março 25, 2008

Aedes aëgypty e Dengue

Em Novembro e Dezembro passados, escrevi alguns posts sobre o Aedes aëgypti, o mosquito vulgarmente conhecido, aqui na Madeira, por “mosquito de Santa Luzia”: A.aëgypti_na_Madeira; Desinfestações; crianças_e_mosquitos; A.aëgypty_ao_vivo; mais_vale_tarde; panfleto; fotografias; Funchal_by_Aedes.

Agora, com a volta da Primavera, com as temperaturas a subir e, não acreditando nas medidas tomadas pelas autoridades sanitárias locais, volto ao assunto que nunca deixou de constituir uma grande preocupação. Um leitor assíduo do meu blog, pergunta: “Estando a Dengue a evoluir imenso no Brasil, isto é Rio de Janeiro, há possibilidade de vir para a Madeira?!” Acho que tocou num ponto importante e que faz lembrar a importância de estarmos informados e conscientes de termos os comportamentos adequados para limitar o número destes insectos e impedir que o vírus do dengue se instale aqui.

Apesar de não ser especialista em insectos, nem especialista em epidemiologia, a minha resposta, de acordo com o que sei da bioecologia do mosquito (uma nota para dizer que sou bióloga e etóloga de formação) é SIM.


Explico o raciocínio simples:


1- O vírus do Dengue é um arbovírus e são conhecidos quatro serotipos: DEN1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4. Todos podem causar quer a forma clássica da doença como a sua forma hemorrágica que é mais grave. No Brasil os mais comuns são os tipos 1 e 2, mas também aparece o tipo 3. O tipo 3 parece ser o mais virulento, seguido do tipo 2, tipo 4 e tipo 1. No entanto o tipo 1 é o que desencadeia grandes epidemias num curto espaço de tempo.


2- O principal vector dos virus do dengue é o mosquito
Aedes aëgypti.

3- O mosquito de Santa Luzia é o
Aedes aëgypti. Até agora, pelo que se sabe, ainda não existe dengue na Madeira (reparem no termo “ainda”).

4- No Rio de Janeiro a situação de epidemia de dengue está ficando incontrolável, pelo menos a fazer fé nas notícias e contando com o secretismo que sempre as autoridades sanitárias e políticas fazem destes assuntos, para evitarem alarmismos. E não é só no Rio!


5- De há uns tempos para cá ficou de moda fazer viagens ao Brasil ( são baratas!) e o Rio é realmente uma grande atracção e tentação!


6- Quando uma fêmea
Aedes aëgypti (os machos alimentam-se de açúcares que extraem das plantas) se alimenta do sangue de uma pessoa infectada, os vírus multiplicam-se no intestino do insecto, passando depois para outros órgãos e para as suas glândulas salivares. Este processo (incubação) leva 8 a 12 dias e apartir daqui fica apto para infectar outras pessoas durante a picada para se alimentar.

7- Existe também a possibilidade de transmitir o vírus logo a seguir se a refeição numa pessoa infectada for interrrompida e picar uma segunda vítima para completar a refeição.


8- Esta fêmea tem a capacidade de produzir ovos já infectados que quando eclodirem produzem uma geração de mosquitos transmissores.

9- Durante a sua vida, mais ou menos 3 meses, a fêmea faz, em média, 10 posturas cada uma com 100 a 150 ovos.


10- Os machos que nascem de ovos infectados também podem transmitir os vírus às fêmeas durante a relação sexual, infectando-as.


11- Algumas estimativas indicam que uma única fêmea pode contaminar até 300 pessoas.


12- Quando uma pessoa é picada por um mosquito infectado (uma fêmea) os vírus introduzidos na sua corrente sanguínea entram no baço, no fígado e nos tecidos linfáticos onde se multiplicam – é o período de incubação que pode durar de 3 a 15 dias ( a média são 5 a 6) e sem nenhum sintoma. Após este período os vírus entram de novo na corrente sanguínea e aparecem os sintomas que são muitas vezes confundidos com uma gripe.


13- Isto quer dizer que pode muito bem entrar na Madeira uma pessoa infectada e sem nenhum sintoma. Provavelmente, se não estiver alertada, não relacionará a “gripe” com uma picada de insecto no Brasil … ou outro local onde exista epidemia de dengue.


14- Como o
agente transmissor já cá está, então a possibilidade de transmissão da doença existe, pois a pessoa em questão pode ser picada, aqui, nesse período em que os vírus estão a circular no seu sangue.

15- Devido à capacidade reprodutora e aos hábitos destes insectos, é fácil perceber a gravidade da situação. No entanto, a probabilidade destes “encontros imediatos de 3º grau” acontecerem é baixa e está, obviamente, ligada ao número de insectos presentes no local onde se encontra a pessoa infectada.


Daí a necessidade de, como acima referi, manter a população de
A. aëgypti com poucos indivíduos, impedindo a sua reprodução, eliminando os locais de oviposição e criadouros de larvas.

sábado, março 22, 2008

Vou ser avó pela 3ª vez!

Vou ser avó pela terceira vez. A minha filha está grávida e, como a quase totalidade das grávidas, está enjoada. Eu também enjoei bastante nas minhas três gravidezes e não conheço nenhuma mulher que não tivesse também ficado enjoada nos primeiros meses de gravidez. Ao contrário do que possa parecer estou muito satisfeita que ela esteja enjoada; se assim não fosses estaria preocupada! Como?

Apesar dos termos “enjoada” e “mal-disposta” implicarem que alguma coisa está mal, a investigação mostra que é exactamente o contrário: o enjoo da gravidez representa uma adaptação evolutiva que impede as mães de ingerirem e absorverem substâncias teratogénicas (toxinas que podem ser nocivas ao normal desenvolvimento do bébé). Assim durante a gravidez coloca-se à grávida o problema de se alimentar e ao mesmo tempo evitar os custos da ingestão de toxinas.

Algumas evidências apoiam esta hipótese do enjoo ser uma adaptação que previne as mulheres de ingerirem alimentos que prejudicarão feto em desenvolvimento:

1- De um modo geral, os alimentos que as grávidas acham repugnantes parecem corresponder àqueles que possuem as doses mais elevadas de toxinas. Se ingerirem esses alimentos o mais provável é que os vomitem. O vómito impede as toxinas de entrarem no seu sangue e de passarem pela placenta para o feto em desenvolvimento, constituindo assim uma importante função.

2- O enjoo da gravidez acontece precisamente na altura em que o feto é mais vulnerável à acção das toxinas, mais ou menos, cerca de 2 a 4 semas após a concepção, altura em que muitos órgãos estão a formar-se. Com o passar do tempo o enjoo decresce por volta da 8ª semana e geralmente desaparece completamente na 14ª, o que coincide com o fim do período sensível do desenvolvimento dos órgãos.

3- As mulheres que não enjoam durante os primeiros três meses de gravidez, têm uma probabilidade 3 vezes maior de ter um aborto espontâneo, ou seja, as mulheres que enjoam têm uma maior probabilidade de levar a gravidez a bom termo.

Por isso estou satisfeita com o enjoo da minha filha. E muito feliz porque vou ter mais um neto! Ou mais uma neta!

domingo, março 16, 2008

A carne e a discriminação entre os géneros

Dois comentários no meu último post, fizeram-me lembrar a ligação que existe entre o consumo de carne e o modo como a preparamos, com certos aspectos tradicionalmente ligados à masculinidade. Andei a rever a matéria e encontrei coisas interesssantes. (Baseei-me no capítulo “Meat and gender hierarchies” do livro indicado no meu último post, para escrever este).

Quando nos alimentamos estamos a comer a natureza - nem sempre a comemos da mesma forma, ao longo da nossa passagem pela Terra, mas a verdade é que somos o único animal que cozinha o alimento, criando a principal fronteira entre a civilização e o mundo natural. Segundo o antropólogo Lévi-Strauss, cozinhar os alimentos é um processo universal segundo o qual a natureza é transformada em cultura, sendo os diferentes métodos de cozinhar apropriados para serem usados como símbolos de diferenciação.

Talvez não seja por acaso que gostamos mais de carne assada do que carne cozida. Talvez isso tenha a ver com o nosso passado evolutivo desdes os primeiros colectores e caçadores, aos agricultores e criadores de gado ancestrais.

A maneira como a carne é cozinhada fornece uma pista útil para compreender a natureza das pessoas, os seus valores, as suas instituições e o seu modo de ver o mundo. As culturas assentes no consumo de carne preferem assá-la (ou grelhá-la); as sociedades mistas, que tanto criam gado como também cultivam a terra, tanto assam como cozem os alimentos; as sociedades agrícolas, raramente comem carne e cozem mais as suas plantas.

Existe uma diferença psicológica entre assar ou cozer os alimentos. Assar é um processo que está mais perto do alimento cru, sendo a carne directamente exposta ao fogo. O alimento cozido por outro lado, requere um processo de mediação: é colocado numa panela com água e depois colocado no fogo, sendo a panela e a água os mediadores entre a carne e o fogo aumentando as fronteiras entre a cultura e a natureza. Já o processo de assar a carne mantém apenas uma leve fronteira entre a civilização e o mundo natural, além de que a carne é usualmente assada na sua parte exterior ficando o interior vermelho ou mesmo em sangue, tornando o alimento mais parecido com a carne do animal do que a carne cozinhada.

Assar a carne sempre esteve associado com poder, privilégio e celebração enquanto que cozer o alimento sempre esteve associado com valores curativos e regenerativos, (o célebre caldinho de galinha) e com frugalidade.

Na maior parte das culturas, assar a carne está reservado para ocasiões especiais, dias de festa, banquetes, domingos, casamentos, e está associado a robustez, a virilidade; a cozedura é mais rotineira e tem menor estatuto.

A carne vermelha, cheia de sangue, especialmente a de vaca, é apreciada devido a algumas qualidades tradicionalmente aceites: confere força, aumenta a agressividade, acende a paixão, estimula a sexualidade. Por isso, tem sido associada com a masculinidade e as qualidades masculinas enquanto que as carnes brancas (sem sangue) têm sido associadas com a feminilidade e qualidades femininas. Não terá sido por acaso que, a antropóloga Peggy Sand, sem nenhuma surpresa, verificou que as economias baseadas nos animais são dominadas e conduzidas pelos homens enquanto que as baseadas na agricultura são mais orientadas para o poder feminino (note-se que, de um modo geral, as plantas são mais percebidas como uma dádiva da natureza e menos como uma presa ou como uma propriedade, como acontece com os animais).

Os homens têm desde há muito usado a carne como uma arma de controlo social, como meio de fazer com que as mulheres aceitem um estatuto de subserviência na sociedade. Um sítio onde a hierarquia da carne é muito evidente é na Inglaterra. Numa primeira pesquisa feita em 1863, os investigadores verificaram que nas comunidades rurais as mulheres e as crianças “comiam as batatas e olhavam para a carne”. Nas classes pobres urbanas as mulheres reservavam a carne para os seus maridos acreditando que eles precisavam dela para desempenharem o seu papel de provedores da família. As mulheres comiam carne uma vez por semana mas os homens quase diariamente.

Pouco mudou nos hábitos de consumo de carne nas classes pobres trabalhadoras urbanas e rurais nestes últimos cento e tal anos. Nos locais onde a carne é rara ou cara é quase sempre oferecida em primeiro lugar ao chefe de família. Mas, mesmo em países como os Estados Unidos, onde a carne é abundante e barata, a norma prevalecente coloca os homens no topo da hierarquia. Eu lembro-me disso acontecer aqui, quando era pequena. Sempre me fez confusão verificar, quando ia a casa de alguém conhecido que os melhores nacos de carne eram dados ao dono da casa. Fazia-me mais confusão ainda porque na minha casa os melhores bocados eram para os filhos.

Ironicamente, apesar da nossa moderna cultura, altamente tecnológica, se ir afastando cada vez mais do trabalho físico, alguns homens parecem muito determinados em perpetuar o mito masculino associado à carne, talvez por ela representar o último reduto do machismo. Existem poucas dúvidas quanto ao forte simbolismo que liga o consumo da carne e o machismo nas culturas ocidentais, como mostram as estatísticas sobre violência doméstica que revelam uma forte ligação entre eles - muitos homens usam a ausência de carne como pretexto para a violência contra as mulheres, acreditando que, a sua masculinidade está a ser negada ao não lhes ser servida uma refeição de carne.

Um outro aspecto interessante é o processo de assar a carne ser uma actividade dominantemente masculina, não só entre muitas tribos de indios americanos e outras sociedades de caçadores, como nas sociedades ditas ocidentais. Aliás, basta deitar atenção: quando se faz um churrasco, quando se faz a nossa espetada, usualmente são os homens que tomam conta da carne. Já o processo de cozer a carne é uma actividade predominantemente feminina. Ninguém esperaria ver cowboys a cozerem a carne!

A conclusão a que chego, é esta: somos animais altamente políticos e a carne que comemos e a forma como a comemos, representa muito da nossa forma de fazermos política e de estruturarmos as nossas sociedades. Isso está enraizado nas práticas alimentares dos nossos antepassados (não estou a justificar o machismo!).

Veio-me agora à cabeça que nos talhos, são os homens que dominam. E nos matadouros. E nas caçadas. Por que será?

domingo, março 09, 2008

vacas, clima, obesidade e fome - haverá alguma relação?

Um comentário no meu último post fez-me lembrar que, em tempos (1993), escrevi um artigo para publicar num jornal local que falava exactamente do problema enorme que então nos afligia, e, que nos aflige hoje ainda mais que se prende com a criação e o consumo de carne de vaca. São algumas notas que continuam actuais, apesar de, infelizmente, alguns números apresentados serem hoje em dia muito maiores.

Há mais de 20 anos que não como carne de vaca nem ela entra em minha casa! Vivo muito melhor sem ela. Por todas as razões. E você come carne de vaca?

Se estiverem interessados existe um livro de Jeremy Rifkin, Beyond Beef – The rise and fall of the cattle culture, London, Harper Collins Publishers, 1992, onde recolhi, na altura, muita da informação apresentada.

É este o texto:

Quando vejo as tempestades que assolam o mundo, só me vem à cabeça que em parte, as culpadas são as vacas.
Quando vejo a miséria e a fome neste mundo superlotado, vem-me de novo à cabeça que as culpadas são as vacas.
E como somos nós que criamos as vacas, então, tenho a certeza que os culpados somos NÓS.

A relação entre homens e bovinos remonta à noite dos tempos, desde os nómadas do Neolítico que invadiram o Médio Oriente e a Europa, à procura de novas pastagens para as suas manadas, semeando o terrror entre os povos agrícolas sedentários e mais pacíficos, passando pelo rei Narmer-Menes, (cerca de 3200 anos A.C.) que instaurou o culto do Touro Ápis, nascido de uma vaca fecundada por um raio de lua, e por Cristóvão Colombo que levou para o Novo Mundo, 12 vacas espanholas (em 1870, já havia 13 milhões delas nas pampas da Argentina), até os 1,2 bilhiões de bovinos que actualmente existem sobre a Terra e cujo peso é superior ao peso das pessoas, ocupam quase 24% dos solos e consomem cereais que poderiam alimentar centenas de milhar de pessoas.

Para criar uma vaca é necessário alimentá-la com ervas e depois engordá-la, normalmente com um cereal. É o que acontece com alguns 100 milhões de bovinos americanos que primeiro são alimentados no pastos e depois engordados com milho; estas vacas comem 220 milhões de toneladas de milho por ano, duas vezes mais que a população humana deste país. Segundo Rifkin, 600 milhões de toneladas de grão são utilizadas por ano no mundo, para a alimentação do gado. Em vez disso, poder-se-ia plantar alimento para mil milhões de pessoas.

Nos anos sessenta, muitos países da América do Sul, com a ajuda do Banco Mundial e do Banco Inter-Americano para o Desenvolvimento, começaram a transformar milhões de hectares de floresta tropical e de terras agrícolas, em pastagens para engordar o gado destinado ao mercado internacional. Na América do Sul, existem 9 vacas para 10 homens e na Austrália 14 bovinos para 10 homens. Segundo Rifkin, esta “bovinização" faz parte de um objectivo das grandes multinacionais para criar um mercado mundial único para a produção e distribuição da carne de vaca. Com 22% da produção, os E.U. dominam o mercado e detêm o record de todas as categorias de consumo de carne: cada cidadão americano consome na sua vida, 7 vacas de 500 Kg, ou seja, duas vezes mais que o europeu e dez vezes mais que o japonês.

Este actual consumo de carne representa um esbanjamento, num mundo onde domina a miséria, porque ao consumir carne se está a perder grande quantidade de energia que de outro modo daria para alimentar muito mais pessoas. Para compreeender a enormidade do problema, é necessário examinar a biologia das cadeias alimentares e compreender como elas são manipuladas e deformadas para servir os nossos interesses.

Imaginemos a cadeia alimentar erva – gafanhoto – rã – truta – homem. Percebe-se neste esquema que os gafanhotos se alimentam de ervas, que as rãs comem gafanhotos, que as trutas comem as rãs e que nós, por fim, comemos as trutas.

Se forem necessárias 300 trutas para alimentar um homem, durante 1 ano, são necessárias 90.000 rãs para alimentar essas trutas, 27 milhões de gafanhotos para alimentar as rãs e cem mil toneladas de erva para alimentar os gafanhotos. Isto porque em cada etapa da cadeia há uma perda de 80 a 90% da energia alimentar, o que significa que apenas 10 a 20% da energia é transferida para o elo seguinte. Ora os bovinos são os “conversores de energia” menos eficazes: para fazerem 50 Kg de proteína necessitam consumir 790 Kg de proteína vegetal.

Além disso, o gado liberta grande quantidade de metano, um gás que contribui para o efeito de estufa, com as consequente alterações do clima em todo o mundo. Os animais produzem metano de dois modos: 1- pela digestão, 2 – pelas dejecções, ou melhor, pela maneira como o homem gere estas últimas.

O alimento ingerido pelos bovinos fermenta no seu estômago, que é formado por várias cavidades sucessivas, onde proliferam milhares de bactérias, dando origem ao metano “digestivo” - 4 a 10% da energia bruta ingerida perde-se na forma de metano. Nos animais monogástricos (com um só estômago como o porco) a perda é menor, entre 0,5 e 2%. A quantidade produzida depende naturalmente do tamanho do animal e do seu modo de alimentação (um animal alimentado com alimentos compostos ingere mais energia que um animal na pastagem).

No total, 74 milhões de toneladas de metano são lançadas cada ano para atmosfera pelos criadores de gado. Destes, 74% são imputáveis aos bovinos, 8 a 10% aos carneiros e aos búfalos, o resto aos porcos, cavalos, mulas, camelos, burros e aves. Hoje em dia alimentamos vacas de modo a produzirem mais carne e mais leite e em consequência disso a quantidade de metano libertada é maior. Os números falam por si: em 1983 um bovino médio libertava, em média, 35 Kg de metano por ano; em 1990, libertava 45 Kg.

Mas não é só a digestão que liberta metano; a gestão dos dejectos animais liberta mais metano. O paradoxo é que estas emanações nocivas para a tmosfera resultam precisamente de medidas de protecção ambiental. Com efeito, para lutar contra a poluição das águas pelos nitratos, incitou-se os proprietários de culturas intensivas de gado ( especialmente de porcos) a não espalhar os seus dejectos sobre as superfícies ( terras ou pradarias) mas a armazená-los o maior tempo possível em cubas estanques. Infelizmente estes dejectos fermentam na ausência do ar e libertam tanto mais metano quanto maior for o período de armazenagem (particularmente no Verão, onde a temperatura ambiente reforça a produção de metano).

Muito havia a dizer acerca do avanço da desertificação que é causada pelo pasto em demasia, pelo excessivo cultivo, pela desflorestação e por técnicas impróprias de regadio, constituindo a produção de gado o factor com mais peso em todas estas causas.

Então, além de aumentarem a quantidade de metano na atmosfera, as vacas são também responsáveis pela erosão dos solos, pela destruição das florestas tropicais ( na Amazónia, milhões de hectares de floresta tropical foram trnasformados em pastagens para engordar manadas destinadas ao mercado internacional), pelo esgotamento dos recursos de água, além de terem criado a civilização de obesos, enchendo-nos de colesterol, cancros e de doenças cardio-vasculares, tornando-nos os mais gordos de toda a história da humanidade.


Por outro lado o culto moderno da vaca, leva à divisão do mundo entre os que a comem ( e que por ficarem gordos gastam tempo, dinheiro e energia emocional para emagrecerem) e os que não a podem comer (que vêm os seus corpos irremediavelmente raquíticos, parasitados, doentes, intelectualmente diminuidos), contribuindo assim para o racismo e a descriminação social.

Por tudo isto é urgente “salvar o mundo destes animaizinhos” (ou melhor dos que os criam!); bastaria para issso que cada um de nós decidisse comer duas vezes menos carne de vaca que antes. Talvez houvesse ainda alguma esperança para a humanidade!

Nem sequer foi preciso falar nas “vacas loucas”.