quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Gosta de bróculos?

Hoje o meu neto (6 anos) disse à mãe que tinha saudades de comer… bróculos!
Este seu desejo fez-me lembrar que, de um modo geral, as crianças não gostam de bróculos e fazem tudo o que podem para não os comer. Haverá algum motivo escondido?

As crianças, de um modo geral evitam comer certos vegetais como bróculos, couves de bruxelas, couve-flor, nabos, couves. E têm razão para isso. Estes vegetais, contêm certas substâncias, os glucosilatos que são, na realidade, tóxicas para o organismo.

Estas toxinas bloqueiam, em parte, a capacidade da glândula tiróide em usar o iodo necessário ao fabrico das suas hormonas. Deficiências no funcionamento desta glândula podem resultar em atraso mental e no retardamento da maturação sexual, nas zonas onde o meio ambiente é pobre em iodo, nomeadamente nas zonas longe do mar (Valha-nos isso!). O que se pensa é que deve ter havido, ao longo da nossa evolução fortes pressões selectivas que nos levaram a detectar (saborear) os compostos anti-tiróide presentes nos alimentos.

Numa perspectiva evolucionista, faz muito sentido para os humanos que vivem em zonas onde o iodo é escasso, desenvolverem papilas gustativas, sensíveis aos glucosilatos, de modo a evitarem os alimentos que os contêm. Quem conseguir terá mais hipóteses de sobreviver.

Acontece que umas pessoas têm a capacidade de “sentir” a presença dessas toxinas nos alimentos e outras não, e isso está relacionado com a sua herança genética. Mas este aspecto também só é importante se a pessoa viver numa zona pobre em iodo.

Para complicar a coisa, acontece que estas toxinas têm um efeito secundário: têm capacidade anti-cancerígena.

Então é assim: 1 –num ambiente pobre em iodo, as pessoas sensíveis às ditas toxinas, são dominantes, porque conseguem evitá-las, não comendo determinados alimentos; 2 – num ambiente rico em iodo, quem não consegue detectar as tais toxinas está em vantagem porque recebe os efeitos anticancerígenos dos… bróculos, couves, nabos…

Interessante!

O meu neto não é sensível. E você?

Figura retirada de (http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/images/img_glandula_tiroide.jpg)

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Coisa de guerra e sexo

Há dias, na altura dos atentados contra Ramos Horta e Xanana Gusmão, (um parêntesis para repudiar, do fundo de mim, estes e quaisquer atentados), mais precisamente no dia 11 deste mês, no Jornal da 9, Sic Notícias, ouvi algo que me fez lembrar a ligação entre o sucesso reprodutor (dos machos = dos homens) e a guerra.

O comportamento humano de formar grupos para fazer a guerra, têm muito a ver com o seu valor adaptativo relacionado com o aumento do sucesso reprodutor. Grrrr!
Pelo menos para Tooby e Cosmides, na sua teoria evolutiva da guerra.

Neste caminho evolutivo, o ganho, a longo prazo, em recursos reprodutivos deve ultrapassar os custos do envolvimento na guerra. Como as fêmeas representam um importante limite ao sucesso reprodutor dos machos, (ah! ah!) então, na prática, o aumento de cópulas com as fêmeas fica favorecido, na guerra! Grrr!

Para as fêmeas (as mulheres) a coisa já não se passa assim pois o acesso sexual não lhes impõe o mesmo limite! Como é que é?

Explico: As mulheres têm obrigatoriamente de investir nos seus filhos – gastam muita energia a fabricar óvulos (caros!), na gestação (nooooove meses!), no aleitamento, na educação. É por isso que as mulheres constituem um recurso limitado para os homens (Acho que os homens não vão acreditar nisto!).
Por outro lado, os espermatozóides são baratos, digo, baratíssimos (ih! ih!) de fabricar pois não é preciso quase nada de energia. Existem ao desbarato.

Os homens precisam ir para a guerra; as mulheres não, porque haverá sempre nas redondezas um pacote (dois!) de esperma ambulante desejoso de …

Sem saberem (penso eu, pelo menos, sem pensar no assunto naquele momento), Alfredo Reinado (entrevista antiga) referindo-se aos militares australianos que patrulhavam as ruas de Timor disse: … usam bons carros alugados … ficam com as mulheres bonitas… e, Adriano Moreira, referiu que durante a ocupação de Timor pela Indonésia, houve … uma grande resistência das populações - até nos 3 anos seguintes não houve mestiços

Na mouche!


(Tooby, J., & Cosmides, L. (1988). The evolution of war and its cognitive foundations. Institute for Evolutionary Studies, Technical Report #88-1.)

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Como hoje é o dia de S. Valentim fiz um poema...


Gosto da maneira como dizes o meu nome
E de sentir a emoção desse momento
Música ondulante, suave, deliciosa
Combinando com o perfume de uma rosa
Amarela, como eu gosto

Sei-te por dentro quando dizes o meu nome
Estremecendo com ternura e com desejo
De fundir as nossas bocas num beijo
Sei-te

Sou mais que o nome quando dizes o meu nome
Sinto que sou

sábado, fevereiro 09, 2008

Cigarros, medo, inteligência

Tenho andado a pensar na nova lei do tabaco e na polémica gerada à sua volta. Desde já digo que concordo com ela. Mas o que me leva a escrever este post é a ligação que sempre se faz na minha cabeça entre o acto de fumar e o medo.

A pergunta martelava: por que será que as pessoas que fumam não sentem medo disso?

Em termos biológicos o que é o medo? Por que será que sentimos medo? Quando sentimos medo? Por que sentimos medo de umas coisas e não de outras?

Sentimos medo quando existe perigo e reagimos de diferentes maneiras: ficamos parados, fugimos, agredimos defendendo-nos ou submetemo-nos. O valor adaptativo destes comportamentos parece óbvio: permite-nos lidar com a fonte do perigo, ultrapassá-la, logo, tem uma função de sobrevivência, é um legado evolutivo que nos leva as a evitar as ameaças.
No fundo o medo é essencial, é uma das emoções mais primitivas, cujo suporte anatomofisiológico é uma pequena estrutura cerebral, a amígdala cerebral.

Actualmente existe um grande corpo de evidências que mostra que desenvolvemos mais facilmente medos contra perigos presentes no ambiente ancestral dos nossos antepassados do que em relação aos perigos do ambiente presente.

Bingo!

Temos mais medo de cobras nas grandes cidades do que medo em relação aos carros. E ... em relação ao tabaco. Uma explicação evolutiva pode ser: o medo dos carros, dos alimentos trangénicos, dos cigarros, etc., não foi, virtualmente, herdado, porque estes representam acontecimentos novos, demasiado recentes para a selecção natural ter desenvolvido medos específicos!

A resposta para as pessoas não terem medo de fumar pode ser simples: não houve tempo para uma resposta evolutiva (adaptativa) da nossa espécie.

Mas nem por isso deixa de ser um GRANDE PERIGO, não apenas para os fumadores mas para TODOS. Como o medo é irracional, então o córtex cerebral terá de entrar em acção. Será que os fumadores são pouco inteligentes?

Vale mais que mil palavras



Deixo-vos uma fotografia de uma pintura, real, no tecto de uma zona reservada a fumadores, que recebi via e-mail.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Há tempos, na minha família, aconteceu um caso muito engraçado e que nos faz rir sempre que o recordamos. Um familiar meu, mais precisamente uma pessoa do sexo feminino, passou algum tempo a tomar um chá que lhe estava a fazer muito bem à saúde, pois sentia-se optima, durante o período em que o estava a tomar. Passadas algumas semanas de “tratamento” descobriu que estava a tomar chá para a próstata! Sem reparar tomou o chá que tinha comprado para o marido! Todos nos rimos porque todos nós SABEMOS que as mulheres não têm próstata!

Será mesmo assim?
A resposta é NÃO!

O que contece é que, por razões culturais e por arrastamento destas, o fraco investimento na investigação desta área, leva a que se saiba pouco acerca das glândulas anexas do sistema sexual feminino! E mesmo assim, as evidências científicas encontradas ultimamente que reconhecem a existência de uma próstata feminina, continuam a ser negadas, por alguns! É engraçado o assunto não fazer manchete na comunicação social! Era o que faltava as mulheres também terem direito a ter próstata!

A próstata feminina localiza-se numa área de tecido eréctil à volta da uretra, variando a sua posição de mulher para mulher, numas mais próximo à bexiga (10%), noutras perto do meato uretral (66%) e ainda noutras difusamente ao longo da uretra (24%) e apresenta semelhanças estruturais e célulares com a próstata masculina. Aliás, ambas derivam do mesmo tecido embrionário, o seio urogenital.

E a sua função?
Não está ainda completamente esclarecida mas não há dúvidas que durante a excitação sexual, a próstata feminina liberta fluidos, cuja composição é semelhante aos da próstata masculina e que são conhecidos como “ejaculação feminina”. Muitas mulheres (porque não estão alertadas) confundem-na com pequenas emissões de urina (o que não é o caso) ou com o resto dos fluidos vaginais que estão presentes durante a excitação sexual. E, claro está, umas libertam mais outras menos.

A próstata feminina representa uma zona erógena importante para o orgasmo coital feminino. Para algumas mulheres a zona mais erótica situa-se na parede anterior da vagina (o famoso ponto G) mas para outras essa zona estende-se mais. Conjugando a distribuição da localização da próstata feminina com as zonas de prazer então ponto G não é mais do que a próstata feminina.

Outra função pode ser explicada do ponto de vista evolutivo e, aí, temos de considerar duas estratégias reprodutivas distintas: a masculina e a feminina. De forma muito simples é assim: os machos arranjam forma de persuadirem as fêmeas a guardarem os seus espermatozóides depositados no seu tracto genital; as fêmeas querem remover os espermatozóides indesejados e de má qualidade. Pode ser coincidência mas o esperma é espesso e pegajoso, (a maior parte dos meus leitores já deve ter tido a oportunidade de confirmar!), bozinho para grudar nas paredes e pregas dos tractos genitais da fêmea! Como removê-lo? Faz sentido a produção de um líquido lubrificante para expulsá-lo.

Mas nem tudo é bom; a má notícia é que a próstata feminina também está sujeita às mesmas doenças que a próstata masculina, incluindo o tão temível cancro da próstata, se bem que, nas mulheres, seja muito menos frequente. Aliás, muitas cistites e uretrites diagnosticadas às mulheres podem muito bem ser inflamações da sua próstata! Será que os médicos, de um modo geral, sabem disto? Penso que não!

Mais uma, para a tal “superioridade” do sexo masculino!

Razão tinha essa minha familiar em dizer que o tal chá lhe fazia bem!
Mulheres, toca a tomar chá para a próstata!

Notas:
O assunto da estratégia masculina e feminina não se esgota por aqui.
Para procurar informação: American Journal of Obstetrics and Gynecology; Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Acre; livros sobre Evolução Sexual.