terça-feira, novembro 27, 2007

Ser mais esperto que o mosquito...

Começaram as desinfestações para exterminar os mosquitos Aëdes aegypti. O tratamento das áres afectadas ( Zonas 1, 2, 3 e 4) demorará três meses. Nos dias 19 e 26 deste mês foram tratadas as zonas 1 e 2 respectivamente. (DN, 18 Nov 2007, pág. 44)

Segundo o que se consegue apurar através de declarações de responsáveis da Saúde Pública, da empresa que presta os serviços de desinfestação e artigos de jornais, o que se faz é a pulverização (à noite) das zonas afectadas com insecticidas (desinfestação química).

Não concordo com este plano de ataque. Digo porquê:

1- Neste momento está frio. A temperatura não é a ideal para o mosquito manter-se vivo. O que se vai matar? Para quê as pulverizações?

2- O ataque ao mosquito deveria centrar-se na eliminação dos criadouros porque se eles não existissem os ovos não se transformariam em larvas e estas em mosquitos;

3- Neste momento, não adianta eliminar os mosquitos, (aliás presumo que não os encontrarão), pois, entretanto já puseram ovos e estes, mais cedo ou mais tarde, vão transformar-se em novos mosquitos – é gastar dinheiro sem eficácia.

4- As pulverizações não matam os ovos, pois estes sobrevivem enquistados, fazendo face às condições adversas do ambiente. Vão eclodir na próxima Primavera.

5- A aplicação sistemática de insecticidas pode levar à criação de resistências por parte dos mosquitos.

6- A aplicação de insecticidas – os insecticidas são venenos – põe em risco a população, pois são substâncias que têm efeitos alergénicos e tóxicos para o sistema nervoso. Isto é particularmente grave em crianças, idosos e pessoas alérgicas.

7- Não se sabe (não foi tornado público) que substâncias estão presentes nos insecticidas usados. Todas fazem mal mas existem umas com efeitos mais nefastos que outras. Normalmente os produtos usados para matar as larvas dos mosquitos são substâncias organofosforadas que têm efeitos graves sobre os músculos e os nervos e além disso podem provocar mutações.

Não quero com isto dizer que não se devam fazer pulverizações, mas não como solução preferencial. É verdade que se matam muitos mosquitos, mas como as pessoas já perceberam, isto é sol de pouca dura. Os mosquitos voltam.

Se eu mandasse, mobilizava a população, o exército, as escolas, etc, para um fim-de-semana ( ou mais) de luta contra o Aëdes, para fazermos uma limpeza, a sério, de todos os terrenos baldios, ribeiras, quintais, jardins públicos, ruas, etc., das zonas afectadas, numa acção que chamaria a atenção da população para a necessidade de TODOS sermos responsáveis para mudarmos os nossos comportamentos de modo a evitar que esta praga se alastre. Este é um trabalho que tem de ser feito agora no Inverno: destruir os criadouros, com remoção e com limpeza com água, escova e sabão.

Os panfletos distribuídos pela Saúde Pública estão bem feitos. O problema é que as pessoas não têm paciência para lê-los. E se os lêm não passam à prática os comportamentos que lá se indicam. Porquê? Porque saber não é fazer. É necessário mais qualquer coisa para motivar as pessoas.

sábado, novembro 24, 2007

Fêmeas m......

Desde há cerca de três anos, que a equipa liderada pela Dra Patricia Pietrantonio da Estação de Agricultura Experimental do Texas investiga um aspecto interessante relacionado com a biologia do mosquito Aëdes aegypti: a rapidez com que produz urina!

Já toda a gente sabe que as fêmeas necessitam de sangue para a maturação dos ovos. Mas, quando ficam “cheias” de sangue, ficam muito pesadas e com dificuldade de movimentação e podem ser facilmente apanhadas pelos humanos ou comidas por predadores.

Como resolvem as fêmeas o problema? Fácilmente: à medida que sugam o sangue vão eliminando urina!

Este processo é muito complexo e é regulado por hormonas produzidas pelo cérebro e sistema nervoso do mosquito. Sem este controlo hormonal, os mosquitos não conseguem eliminar a urina.

Pensando nisto os cientistas querem inventar um insecticida muito selectivo que faça exactamente este trabalho: desregular o dito sistema hormonal de modo a impedir a formação de urina.

Isto é ainda mais importante na medida em que, quando se fazem pulverizações com insecticidas gerais, mata-se tudo, indiscriminadamente e, além disso, podemos estar a fazer mal também ao homem.

Sabemos que, logo que a fêmea acaba de se alimentar, está apta para, um a dois dias depois, por ovos. Logo a seguir à postura, está outra vez pronta para se alimentar e… pois é, pôr ovos outra vez! É verdade, estas fêmeas possuem um elevado potencial reprodutor. Com o tal insecticida, ao não fazerem “chi-chi”, ficam mais vulneráveis ou, pelo menos, o processo de reprodução fica muito retardado.

Descobriu o título deste post?

terça-feira, novembro 20, 2007

Fui visitar os meus pais. De uma das casas da rua, saiu um grupo de seis crianças que veio ao meu encontro. Cumprimentaram-me e quiseram saber o meu nome. Disse-lhes e, a partir daí, chamaram-me, respeitosamente, D. …

Fiquei a saber muitas coisas: que eram filhos de duas irmãs, uma com quatro crianças, a outra com duas; que tinham entre 3 e 8 anos de idade; que andavam na escola, duas na pré, uma no 1º ano, uma no 2º ano e duas no 3º ano. Dei comigo a pensar que com famílias destas não teríamos problemas com o envelhecimento da população!

Nos olhos e postura dessas crianças podia ver-se que estavam felizes, talvez porque andavam com os pés descalços a chapinhar na água da chuva. Só uma tinha sapatos. Usavam camisolas de manga comprida e calças de algodão, acima dos tornozelos.

Tinha chovido. Perguntei-lhes: Não sentem frio nos pés com este chão molhado? Ao que todos responderam “Não!” Reparei então que os pés e os pedaços de perna fora da roupa estava, em todas elas, cheios de picadas de mosquito. Picadas do Aëdes aegypti, claro! Pergunta minha desnecessária: Vocês foram picados por mosquitos? Resposta pronta: Fomos todos e também a minha avó; eles estão sempre a morder a gente!

Pensei aproveitar a ocasião para elucidar estas crianças acerca dos comportamentos a ter para se protegerem do dito insecto. E comecei… Sabem, as pessoas têm de ter cuidado - fui interrompida pelo miúdo de 8 anos: a culpa é dos políticos que não fazem nada!

Espanto meu, não estava à espera desta intervenção, pelo menos nestes termos e, então, continuei: pois é, mas não são só os políticos que têm de fazer alguma coisa; todos nós, também, temos de ter cuidados para os mosquitos não se reproduzirem. Vocês sabem que a maior parte destes mosquitos nascem nos pratinhos com água que estão debaixo dos vasos de plantas?

Resposta do tal miúdo: Sabemos e na nossa casa não temos nenhum. O pior é que as outras casas têm. Aquela senhora daquela casa (apontando com o dedo) tem e esta, (a casa dos meus pais) também! E a gente é que é mordido!

Tens razão – disse-lhe eu – mas nesta casa, (a dos meus pais) eu sei que eles lavam todas as semanas os pratinhos, com uma escova e sabão, e, além disso, colocam uma gotinhas de lixívia na água dos pratinhos. Assim os mosquitos não se desenvolvem. É preciso esfregar bem os pratinhos, porque os ovos ficam agarrados e conseguem aguentar secos, um ano. Ao fim desse tempo, quando houver água de novo, eles desenvolvem-se e nascem novos mosquitos.

A conversa continuou. Ficaram muito excitados quando lhes disse que os mosquitos só picavam de dia, pela manhã e à tardinha, que voavam baixinho (Ah! Então é por isso que só picam as pernas e os pés! deduziram logo) e que era preciso fechar portas e janelas a essas horas do dia.

Voaram para casa para impedirem o voo dos mosquitos para dentro dela e, também, para calçarem peúgas e sapatos para tapar a pele.

Tenho pensado nestas crianças e na responsabilidade que nós adultos temos. Se o Aëdes aegypti aqui na Madeira estivesse infectado com os vírus do dengue ou da febre amarela, estas crianças, pelo elevadíssimo número de lesões resultantes das picadas que sofreram, corriam riscos enormes! De forma simples, estas crianças, tocaram em dois pontos cruciais: primeiro, o sentimento das pessoas de que as autoridades sanitárias deviam fazer mais (as medidas tomadas provavelmente não dão confiança às pessoas; é isso que as pessoas percebem e sentem); segundo, este é um problema de todos e todos temos o dever de com medidas simples e adequadas evitar a propagação do mosquito.

Pensemos nisto!

domingo, novembro 18, 2007

Mais vale tarde...

Quando apareceram as primeiras pessoas picadas pelos "mosquitos de Santa Luzia" (Aëdes aegypti), dá-me a ideia de que os serviços competentes não valorizam o comportamento / estratégia do mosquito (andava tudo aflito sem saber como agarrar a coisa). Ouviu-se falar até que era um Anopheles, talvez o mosquito da malária.

Aliás está nos hábitos das pessoas desvalorizarem os insectos; muitas pessoas usam-nos para agredirem outras chamando-lhes “insecto”, coisa sem importância.

Penso também que, de forma leve, se pensou que a aplicação de insecticidas nos locais afectados ia resolver o caso. Era mais um mosquito! Acontece que, com todo o manancial fornecido pelo homem, este mosquito lá foi proliferando, com as autoridades sanitárias impotentes para travar o seu progresso.

Que eu saiba, não se consegue resolver um caso destes assim. Não é vergonha nenhuma assumir que não se domina determinado assunto. Se logo no princípio, se tivesse recorrido ao trabalho de especialistas na matéria (tínhamos um mesmo à mão, o professor Ruben Capela da Universidade da Madeira), provavelmente o mosquito não tinha feito casa aqui. Agora é tarde. É tarde, mesmo com os mestrados em Entomologia que dois madeirenses (um biólogo e um engenheiro sanitário) estão a fazer, com o objectivo de ter mais especialistas em insectos a trabalhar na Região e também como uma mais valia para a definição (ainda!) do Plano de Combate aos Mosquitos.

Não sei se o custo de tais mestrados é assegurado pela SRAS; se o for, até acho bem pois é urgente ter alguém a trabalhar neste caso que perceba realmente como funciona a estratégia do pequeno Aëdes aegypti de modo a que sejam estabelecidas medidas realmente eficazes.

sábado, novembro 17, 2007

Resistências...

Já não bastava todo o negro cenário projectado para a próxima pandemia (que os cientistas pensam vir a ser causada pelo H5N1 que entretanto sofreu mutações) e agora novas descobertas acrescentam mais um facto: resistências.
Já toda a gente (ou quase toda a gente) ouviu falar do Tamiflu, por causa do H5N1 e também por ser um dos poucos medicamentos eficazes no combate a este vírus. Acontece que cientistas suecos descobriram que o oseltamivir (substância activa do Tamiflu) não é removido nem destruído pelo tratamento das águas residuais.
Isto quer dizer que, nos países onde o Tamiflu é usado com elevada frequência, corre-se o risco de aumentar a sua concentração nas águas naturais, fazendo com que os vírus da gripe (incluindo o H5N1) na natureza desenvolvam resistência a este medicamento. Quanto mais vírus resistentes houver na natureza, maior é o risco dos vírus da gripe humana se tornarem resistentes a um dos poucos medicamentos actualmente existentes para tratá-la.
O Tamiflu é o medicamento mais eficaz no tratamento da gripe mas se a sua administração não for feita com precaução pode acontecer não servir para nada, na próxima pandemia que é quando mais precisaremos dele.
A maior parte dos países usa Tamiflu em doses baixas para tratar gripes mas o Japão usa altas quantidades (cerca de 1/3 de todas as gripes são tratadas com Tamiflu) o que é verdadeiramente preocupante.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Poema...

Para desenjoar de mosquitos e de vírus, um poema que fiz quando tinha 16 anos, já lá vão ... muuuuuitos anos! A pessoa que esteve na origem deste poema ainda continua comigo.

É por ti que passo o dia me enfeitando
Sozinha, ansiosa, à tua espera
Nas tardes mornas da Primavera

És tu quem anuncia o sol poente
E o vento num murmúrio doce e quente
Baixinho diz-me que vens chegando.

terça-feira, novembro 13, 2007

Hoje vou mostrar algumas fotografias e desenhos que me fazem classificar o mosquito Aëdes aegypti de “ belo e elegante”.



(Desenhos de: Zumpt, F. (1956). Insekten als Krankheitserreger und Krankheitsüberträger. Kosmos Verlag. Stuttgart. "After Edwards.")

Reparemos nas antenas pilosas, por onde “cheiram” as substâncias que nós exalamos e que são tão atractivas para “elas”. Não são só os humanos que gostam de perfumes!


As 3 fotografias abaixo são da autoria de : Andreas Rose, Helge Knuettel e Birgit Steib

















Nesta vista frontal do Aëdes aegypti, reparem na 3ª pata direita levantada, que representa um comportamento característico. Elegante né? Aqui prepara-se para iniciar a refeição.















Aqui a bela fêmea já iniciou a sua refeição sanguínea. Reparem nas riscas brancas da cabeça, corpo e patas.














Depois de satisfeita (barriguinha cheia, vêm?) lá se vai embora. E é aí que se sente o prurido.




domingo, novembro 11, 2007

Hoje vi, ao vivo um Aëdes aegypti! Confesso que gostei de vê-lo. O que não gostei é que ele estava na casa dos meus pais.


Estes mosquitos são realmente belos e muito elegantes na forma como pousam. Verifiquei que ele era atraído pela camisola vermelha do meu pai e também pela minha mala que também era...vermelha! Nunca li nada relacionado com a preferência de uma cor por estes mosquitos; não me espantava nada eles reagirem de forma diferente aos diferentes comprimentos de onda da luz. É um comportamento que vou tentar investigar.


Algumas pessoas aqui na Madeira, têm conseguido apanhar mosquitos usando uma garrafinha de água depois de vazia. Colocam na garrafa um pouco de vinagre, mais ou menos uns 2 - 3 dedos de altura, fecham-na, e, na parte superior, a partir mais ou menos de 3/4 da sua altura, fazem uns furinhos que permitam a entrada dos mosquitos. Os mosquitos são atraídos pelo cheiro, e, uma vez caídos no vinagre, não conseguem sair.


Mas atenção, se colocar a garrafinha dentro de casa, atrairá os mosquitos! É importante também, evitar ter as portas e as janelas abertas, pela manhã e à tardinha que são as horas preferenciais para o mosquito se alimentar.

No entanto, o que eu acho mesmo importante é evitar que o mosquito se reproduza, eliminando todas as condições necessárias à sua reprodução.

Algumas medidas:

· Encher os pratinhos dos vasos das plantas com areia ou terra, ou

· Trocar semanalmente a água dos vasos das plantas e lavar com uma escova ou pano os pratinhos que acumulam água.

· Lavar as jarras de flores para eliminar os ovos dos mosquitos que ficam colados nas suas paredes.

· Acondicionar as garrafas vazias e outros recipientes de boca para baixo, para não acumularem água.

· As latas vazias devem ser furadas antes de serem jogadas fora, para não acumularem água. O melhor é usar a recolha selectiva.

· Lavar os bebedouros dos animais (aves, cães, gatos) com escova e esvaziá-los à noite, sempre que possível.

· Manter os depósitos de água, os jarros com água, os filtros, autoclismos, bem fechados.

· Fechar o lixo em sacos de plástico e colocá-lo para recolha dos serviços de limpeza da câmara nos horários previstos.

· Manter os algerozes bem desobstruídos para não acumularem água.

· Colocar os pneus velhos em lugares cobertos, para não acumularem água da chuva.

· Mater as piscinas (quem tiver!) desinfectadas pelo menos uma vez por semana

As pessoas referem que a água tratada com hipoclorito de sódio (lixívia) mata os mosquitos. Aliás esta água tratada com cloro tem sido recomendada pelas autoridades sanitárias brasileiras para regar as bromélias (que acumulam água entre as folhas) como forma de travar a reprodução do Aëdes aegypti : 40 gotas ou 1 colher de chá de lixívia por cada litro de água.

É importante fazer notar que a lixívia usada tem de ser pura; a lixívia usada para a roupa já vem diluída e além disso pode conter outras substâncias nocivas para as plantas.

Como o Aëdes aegypti possui uma enorme facilidade de disseminação, é muito difícil eliminar os mosquitos dos locais onde se reproduzem, o que quer dizer, que as medidas de combate exigem a participação de todos a partir da adopção de medidas simples como as que enunciei acima.

Só para acrescentar mais uns sítios, que podem acumular água e, portanto, onde o mosquito pode reproduzir-se: caixas de água, barris, tambores, cacos de vidro, potes, tanques, cisternas, pratos, panelas, bandejas, bacias, drenos de escoamento, blocos de cimento, urnas de cemitério, folhas de plantas, tocos e bambus, buracos de árvores e muitos outros…


H5N1 - possibilidade de transmissão entre pessoas

Hoje vou referir um estudo realizado por Yang Y*, Halloran ME*#, Sugimoto J*#, e Longini IM*# (*Fred Hutchinson Câncer Research, Seattle, Whashington, USA; e #University of Washington, Seattle, Whashington, USA.) para detectar se é possível a transmissão do H5N1 de pessoa para pessoa.

Entre os casos de pessoas infectadas pelo H5N1, foram documentados 31 clusters de famílias, com 2 a 8 membros afectados. Não foi possível determinar em todos eles, quantos foram devidos a contacto directo com aves doentes, vivas ou mortas, ou se o vírus passou de umas pessoas para as outras. Os factos que estão na base destas infecções têm de ser determinados porque se o vírus adquire a capacidade de se transmitir de forma sustentada entre humanos, o surto daí resultante, se não for contido, atravessará o mundo rapidamente.

Este estudo incidiu na análise de dados relativos aos dois maiores clusters familiares ocorridos: um na Indonésia, outro na Turquia.

Indonésia, Maio de 2006:

No mês de Abril e início do mês de Maio de 2006, as autoridades de saúde pública da Indonésia detectaram e investigaram, em Sumatra, um grupo de 8 pessoas, todas da mesma família, que ficaram doentes. Sete delas residiam em 3 casas contíguas da aldeia de Kubu Sembilang. O outro familiar residia a 10 Km na aldeia de Kabanjahe.

A paciente “inicial”, era uma mulher de 37 anos, (designada partir de agora por “M”) que mantinha uma banca no mercado local onde vendia frangos vivos e que referiu ter estado exposta a aves mortas e a excrementos de frangos, antes de ficar doente. Apesar de não ter sido confirmado que a sua doença tenha sido causada pelo H5N1, morreu a 5 de Maio com a suspeita da sua doença ser mesmo devida ao H5N1 por causa dos sintomas, da progressão da doença e do prévio contacto com animais doentes ou mortos.

Vinte membros da família de M estiveram em contacto com ela, numa reunião familiar ocorrida a 29 de Abril, altura em que se encontrava manifestamente doente, com muita tosse e prostração. Nessa noite, 9 pessoas da família dormiram no mesmo quarto de M, sendo esse quarto muito pequeno. Destes 9 familiares, 2 dos seus filhos (15 e 17 anos de idade) e o seu irmão de 25 anos, que viviam em Kabanjahe, ficaram doentes nas 3 semanas seguintes. Os filhos morreram; o irmão foi o único deste cluster a recuperar.

Dos restantes 11 familiares, 4 ficaram doentes e morreram: (1) a irmã de 29 anos, que vivia na casa ao lado, ficou doente depois de prestar cuidados a M; (2) a sua filha de 18 meses esteve com ela enquanto prestava cuidados à sua irmã; (3) um sobrinho de M de 10 anos que vivia numa das casas adjacentes depois da reunião de família e de algumas visitas à sua tia doente; (4) o pai do sobrinho ficou doente depois de ter cuidado do filho.

A possibilidade do H5N1 ter sido transmitido do sobrinho ao seu pai foi confirmada por análises genéticas. Em todos os casos, com excepção de M, foi confirmada a presença do H5N1 através de técnicas de PCR (polimerase chain reaction = reacção em cadeia pela polimerase). Como medida de intervenção, 54 familiares e as pessoas que estiveram em contacto com as pessoas doentes foram colocadas em quarentena voluntária e todos, com excepção das mulheres grávidas e das crianças, receberam oseltamivir (Tamiflu) como medida profilática.

Turquia, Dezembro de 2005

Entre 18 de Dezembro de 2005 e 25 de Janeiro de 2006 foram detectados 8 casos confirmados de gripe das aves em pessoas da mesma família no distrito de Dogubayazit, Turquia. Estas pessoas pertenciam a uma família com 21 membros distribuídos em 3 casas que distavam 1,5 Km umas das outras. Todos os 8 casos confirmados foram hospitalizados após o início dos sintomas. Quatro destas pessoas morreram; as outras 4 recuperaram.

Dez das restantes 14 pessoas da família residentes nas três casas em questão, foram hospitalizadas com sintomas semelhantes aos da gripe das aves, mas nunca foi confirmado se de facto foram infectadas pelo H5N1. Todas estas pessoas com excepção de uma eram crianças entre os 6 e os 15 anos de idade.

Antes do aparecimento dos sintomas, 4 crianças de uma das casas, três das quais com diagnósticos confirmados, referiram ter estado em contacto directo com os corpos de frangos doentes mortos. Os dois casos confirmados da segunda casa referiram ter morto ambos, um pato, a 1 de Janeiro de 2006. Os dois restantes casos confirmados moravam na terceira casa e não tinham história de contacto com aves. De referir que as 21 pessoas destas três casas tinham estado num jantar oferecido pela família onde apareceu o primeiro caso no dia 24 de Dezembro, embora não houvesse ainda nenhum sintoma da doença.

Através de métodos estatísticos e de modelos de probabilidade de transmissão, a equipa de investigadores deste estudo apresentou evidências estatísticas de que a estirpe viral que causou a doença na família de Sumatra foi transmitida de pessoa para pessoa, mas não encontrou essas evidências estatísticas na família da Turquia.

Apesar de terem chegado à conclusão de que a transmissão de pessoa para pessoa tenha provavelmente ocorrido, não foi possível determinar se o vírus é capaz de manter uma transmissão sustentável entre os humanos.

Também demonstraram que os antivirais podem ser efectivos na contenção de potenciais estirpes pandémicas, se administrados nas primeiras 3 semanas a partir do aparecimento do primeiro caso, não apenas aos doentes mas também profilacticamente às pessoas que estiveram em contacto com os doentes (possivelmente os vizinhos, escolas, locais de trabalho, etc). De referir que a quarentena voluntária também contribui para a contenção da doença.

Quem estiver interessado em mais pormenores acerca deste estudo pode consultar: http://www.cdc.gov/eid/content/13/9/pdfs/07-0111.pdf

sábado, novembro 10, 2007

Diagnosticar o H5N1 rapidamente

Em Outubro deste ano, cientistas em Singapura, comunicaram ter desenvolvido um aparelho que pode rapidamente detectar a presença do H5N1 numa simples colheita de secreções da garganta. Esta invenção pode ser crítica na prevenção de uma epidemia porque permite o diagnóstico rápido, e, consequentemente, o isolamento e o tratamento das pessoas infectadas.

Ora vejamos como funciona: Isto é muito técnico. Se estiver interessado/a consulte a o site donde retirei esta informação: http://www.phgfoundation.org/news/3786/

O que é importante é que se consegue obter resultados em 28 min. em vez das 4 horas necessárias aos testes laboratoriais existentes.

Como os planos da OMS para a prevenção de surtos locais, que possam levar à generalização da epidemia por todo o mundo, assentam no diagnóstico precoce, na quarentena e na administração de drogas antivirais, então, é muito importante que, todos os países, tenham a possibilidade de ter um meio eficaz e barato para fazerem, rapidamente, esse diagnóstico.

Apesar deste aparelho ser ainda um protótipo, espero que seja realmente eficaz e desenvolvido e distribuído por todo o mundo. é mais um passo importante na luta contra o H5N1.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Pandemia H5N1- Portugal tem um Plano de Contingência?

De acordo com o tenho ouvido e percebido, parece-me que, infelizmente, as nossas autoridades sanitárias não têm um bom plano estabelecido para fazer face à próxima pandemia. Não falo apenas na Madeira, mas também a nível de Portugal. O único país europeu que tem um plano decente e bem organizado é a França. Os outros estão muito mal preparados. Apesar das recomendações da OMS!

Se a Madeira possui um plano de contingência (o que duvido) deve estar bem aferrolhado (a eterna mania de esconder para os outros não se aproveitarem). Portugal tem um plano de intenções apesar de se chamar “plano de contingência nacional para a pandemia da gripe” (DGS, 2006) que orienta genericamente acerca de possíveis estratégias a tomar em planos específicos, a criar por cada ministério.

Já estamos na fase 3 de alerta pandémico (espero que seja mesmo!) e ainda não vi isso feito.

Entendo que os governos não podem tomar uma posição de modo a alarmar as pessoas. É preciso saber o ponto certo para informar sem alarmar. Seguramente pessoas informadas reagirão melhor e de uma forma mais eficaz às medidas indicadas pelas autoridades sanitárias.

Reparem na tabela abaixo que retirei da página 6 do plano acima referido que mostra o impacto estimado de uma eventual epidemia em Portugal considerando diferentes taxas de ataque, 25%, 30% e 35%:


Taxa de ataque

25%

30%

35%

Casos de doença

2,5 milhões

3,1 milhões

3,6 milhões

Consultas médicas

1,4 milhões

1,6 milhões

1,9 milhões

Internamentos hospitalares

33 mil

40 mil

47 mil

Óbitos

8 mil

9,6 mil

11 mil

Fonte: ONSA, 2005. Gripe: Cenários preliminares para uma eventual epidemia.

Como vai reagir o Sistema Nacional de Saúde perante estes cenários? Sabemos como funciona mal nos tempos ditos normais. Transforma-se num caos quando uma epidemiazita um pedacinho mais atrevida de gripe sazonal acontece!

Segundo o mesmo documento, os medicamentos antivirais podem ser importantes na ausência de uma vacina pelo que se torna importante a sua reserva (não apenas os antivirais mas também outros como antibióticos, antipiréticos). Portugal encomendou oseltamivir (é o mais eficaz e com menos efeitos secundários e desenvolve menos resistências) suficiente para 2 500 000 tratamentos. Sabendo que este medicamento não chega para tratar todos os casos de doença e também para efeitos de profilaxia do pessoal que presta serviços prioritários (profissionais dos serviços de saúde, das forças de segurança pública e de serviços essenciais para o funcionamento das infra-estruturas básicas), assim como para os familiares de doentes, o que vai acontecer?

Não será melhor estar prevenido e fazer o possível para não se contaminar?

O problema é que as pessoas pensam sempre que as coisas só acontecem aos outros. Se se prevê que 1/3 da população mundial vai ser atingida pela pandemia, isto quer dizer que também em Portugal:

1/3 dos médicos, 1/3 dos enfermeiros, 1/3 das forças de segurança pública, 1/3 dos motoristas, 1/3 dos professores, 1/3 dos empregados de balcão, 1/3 dos jardineiros, 1/3 dos alunos, 1/3 dos advogados, 1/3 do pessoal da administração pública, 1/3 dos engenheiros, 1/3 de…e de… etc., etc., etc. vai ser atingida!

Ninguém fica de fora.

E ninguém toma medidas preventivas se não se sentir em risco. É preciso tomar consciência da nossa própria vulnerabilidade. Só assim conseguiremos mudar o nosso comportamento e minimizar o risco de infecção.

quarta-feira, novembro 07, 2007

H5N1 - preparar-se

Estar preparado para a pandemia da gripe das aves pode salvar a vida!

É exactamente o que a Organização Mundial de Saúde recomenda - preparar-se para a pandemia da gripe das aves.


Segundo os especialistas da OMS este é o vírus da gripe mais perigoso que se tem conhecimento.

Quando a transmissão entre pessoas se estabelecer o mundo disporá apenas de algumas (poucas) semanas para tentar que a situação não fique fora de controlo.


Eu preocupo-me com isso e tomo medidas para me proteger e também para proteger a minha família. O que fazer?


Você que lê neste momento este post, sabe alguma coisa sobre a pandemia da gripe das aves?


Sente-se confortável com o que sabe?


Não acredita que o cenário de pandemia possa ser real?


Sabe alguma coisa sobre a dinâmica e as estratégias dos vírus?

(ver meu post a 3 de Nov)


Mas com certeza já teve uma gripe, e, se calhar, não percebeu bem como a (as) apanhou. Provavelmente na mesma altura outras pessoas suas conhecidas, familiares e amigos também estiveram com gripe. Pois é, só que desta vez, a taxa previsível de morte ( se atendermos ao que está a acontecer agora com as pessoas que se infectaram com o H5N1) é de 57%

Dados da OMS a 22/10/07: 203 mortes em 331 casos confirmados

Pretendo continuar a escrever sobre este assunto e sobre o que se pode fazer. Não quero alarmar ninguém; não é esse o meu propósito. O que quero é poder contribuir, por pouco que seja, para a diminuição do impacto negativo do H5N1.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Aëdes aegypti na Madeira

Ando preocupada com os mosquitos de “Santa Luzia”. Eles, na verdade, são os temíveis Aëdes aegypti que podem transmitir o dengue que é uma doença infecciosa causada por um vírus (arbovirus).


O primeiro local onde apareceram foi em Santa Luzia e daí o nome por que são conhecidos pela população. As pessoas picadas desenvolvem reacções inflamatórias enormes e que deixam uma marca perene na sua pele. Por enquanto, não temos problemas com a transmissão do dengue porque a população de mosquitos (pelo menos que se saiba e confiando nas autoridades sanitárias) não está infectada.


Não sei se as pessoas encarregadas de planear e executar as acções de combate ao mosquito, que se saiba, médicos e empresas de desinfestação, percebem alguma coisa da sua bioecologia. É evidente que estamos perante um problema de saúde pública e, como tal, é legítimo e adequado o combate a partir dos organismos de saúde pública, mas essa equipa deveria incluir, também, etólogos ou biólogos, sociólogos, professores, antropólogos, devido à estreita ligação entre o comportamento dos mosquitos e dos humanos.


Sabe-se da literatura científica que o Aëdes aegypti está altamente adaptado ao modus vivendi dos humanos. Ao longo de uma estratégia adaptativa de qualidade excepcional que passou a usar como criadouros os inúmeros objectos descartáveis que a sociedade moderna criou, o mosquito, seleccionou uma grande produtividade que lhe confere um carácter populacional explosivo. Sabendo que estes mosquitos são os vectores de muitos arbovirus, além dos quatro tipos do dengue e também da febre amarela, é necessário estar atento aos riscos de epidemias.


O Aëdes aegypti está adaptado ao ambiente urbano e é um mosquito que está activo durante o dia (exactamente como o homem) e, por certo, alguma vantagem encontrou ao longo da sua evolução, para ter os mesmos horários que o homem. Reparemos no fato que veste: riscas claras e escuras representam uma boa camuflagem para passar despercebido nos ambientes interiores das nossas casas. Mais, não faz zumbidos com o bater das suas asas, de modo que também por aí, não notamos a sua presença. Esconde-se preferencialmente nas zonas sombrias das casas, debaixo das camas, das cadeiras, das pias de lavar louça, etc., mas também pode ocupar as os espaços mais sombrios dos jardins e dos quintais. Com voos rente ao solo, pica de um modo geral as pernas e os tornozelos das pessoas, suga-lhes o sangue sem que elas dêem por isso, pois introduz um anestésico que impede sentir a picada. A vítima só se apercebe de ter sido picada, quando sente um prurido no local da “refeição aëdina” resultado da reacção às proteínas estranhas da saliva do mosquito. Melhor, da fêmea.


Algum estímulo atractivo enviamos às fêmeas do Aëdes aegypti!


Os machos, durante toda a sua vida, contentam-se com líquidos vegetais açucarados, mas as fêmeas, que também se deliciam com eles, sentem uma necessidade de sangue depois do acasalamento, para a maturação dos seus ovos.


A maior parte dos mosquitos deposita os seus ovos directamente na água, mas o Aëdes aegypti adaptou-se a fazer a postura nas paredes de pequenos recipientes manufacturados pelo homem, um pouco acima da superfície da água. Após a postura, o embrião desenvolve-se num período de dois a três dias, tornando-se então os ovos resistentes à secura. Isto quer dizer que, mesmo que estes recipientes permaneçam secos durante algum tempo, continuam contaminados pois os ovos permanecem colados nas suas paredes: logo que se encham de novo de água e que esta atinja os ovos, estes, serão estimulados a continuar o seu desenvolvimento e a eclodir. É neste criadouro que a nova geração de mosquito de desenvolverá passando pelas fases de larva, de pupa e finalmente de mosquito adulto.


O que se tem observado é que se têm feito desinfestações, quer através de pulverizações das zonas onde se regista um maior número de picadas, quer através do uso de larvicidas nas sarjetas, quando a proliferação de mosquitos é maior. O calor e a humidade favorecem o crescimento das populações de mosquitos e, é nessas alturas previsíveis que tanto as autoridades sanitárias como as populações que são alvo da sua picada se lembram de meter mãos á obra de combate ao mosquito. Talvez fosse boa ideia usar um combate sustentável, durante todo o ano, eliminando os ovos resistentes nos meses mais frios, aliando-nos assim à natureza.


O que é fácil de dizer não é fácil de fazer. É necessário explicar às pessoas a razão das medidas indicadas para impedir a reprodução dos mosquitos, é necessário explicar o que é o dengue e como as pessoas se infectam, é necessário fazer campanhas nas escolas de modo a tornar os alunos pró-activos, é necessário que os próprios serviços do estado cumpram também as medidas que recomendam, não só nos edifícios públicos como também nos jardins e parques (veja-se o mau exemplo dos jardins do Hinton!) e, mais do que tudo, é necessário desenvolver e adoptar estratégias para que as pessoas acreditem na eficácia das medidas que estão a tomar de modo a realmente alterarem os seus comportamentos.


É por tudo o que escrevi que digo que só a equipa de médicos e técnicos de desinfestação, por muito boa vontade, (honra lhes seja feita ao seu trabalho e empenho) não vai ganhar a corrida contra o Aëdes aegypti.

sábado, novembro 03, 2007

H5N1: o perigo é real

Até há pouco tempo muitos cientistas acreditavam que a possibilidade do H5N1 infectar e ser transmissível entre humanos era remota. Hoje a questão coloca-se não no “se” mas sim no “quando”. E quando isso acontecer a transmissão através do globo, será rápida e devastadora.

O vírus da gripe das aves é um vírus Influenza A e chama-se H5N1 devido à existência, na sua parte exterior, de duas estruturas: a hemaglutinina (“H”- são conhecidas 16) e a neuraminidase (“N” – são conhecidas 9). Daqui se depreende que são possíveis muitas combinações entre H e N; nas aves encontram-se todas as combinações mas no homem, normalmente, só existem as combinações entre H1N1, H1N2, H1N3, H2N1 H2N2, H2N3, H3N3.

Para os vírus da gripe infectarem os humanos é necessário que se repliquem no interior de algumas células. Para tal, a hemaglutinina viral terá de ligar-se a receptores presentes nas células do nariz/garganta e nos pulmões. O vírus da gripe das aves prefere ligar-se ao açúcar chamado ácido siálico α-2,3 e os vírus adaptados aos mamíferos preferem o ácido siálico α-2,6. Os mamíferos possuem a fórmula α-2,3 nos pulmões e a fórmula α-2,6 no nariz e na garganta. Como o N5N1 se liga ao açúcar α-2,3 pensa-se que é por isso que provoca infecções catastróficas nos pulmões mas não é capaz de se transmitir de pessoa para pessoa, uma vez que não consegue ligar-se e replicar-se no nariz /garganta.

Uma das características dos vírus é a sua constante evolução através de mutações sendo possível prever quais as mutações necessárias para o H5N1 infectar mais facilmente os humanos.

Ora acontece que, a equipa liderada pelo virologista Dr. Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison, publicou no Public Library of Science Pathogens, a 5 de Outubro passado, que tinha identificado uma mutação chave que poderá ter dado ao H5N1 a ferramenta necessária para infectar e se propagar mais facilmente entre os humanos.

A temperatura do corpo das aves anda à volta dos 41 °C e a dos humanos é de 37 °C. Já no nariz e na garganta, que é por onde os vírus normalmente entram, a temperatura anda à volta dos 33 °C. Quer isto dizer que o H5N1 não se dá bem nestas temperaturas baixas. O problema é que a equipa do Dr. Kawaoka identificou uma mutação em apenas um aminoácido (os aminoácidos são como que os blocos de construção das proteínas) da proteína viral que permite ao H5N1 viver bem nas temperaturas mais baixas do aparelho respiratório superior humano!

Está claro que são necessárias mais mutações, não se sabe quantas, para que o H5N1 se torne na causa de uma pandemia, como por exemplo, o adaptar-se a novos receptores.

Parece que o primeiro passo na estratégia do vírus está dado. Agora é uma questão de tempo.