Ser mais esperto que o mosquito...
Começaram as desinfestações para exterminar os mosquitos Aëdes aegypti. O tratamento das áres afectadas ( Zonas 1, 2, 3 e 4) demorará três meses. Nos dias 19 e 26 deste mês foram tratadas as zonas 1 e 2 respectivamente. (DN, 18 Nov 2007, pág. 44)
Segundo o que se consegue apurar através de declarações de responsáveis da Saúde Pública, da empresa que presta os serviços de desinfestação e artigos de jornais, o que se faz é a pulverização (à noite) das zonas afectadas com insecticidas (desinfestação química).
Não concordo com este plano de ataque. Digo porquê:
1- Neste momento está frio. A temperatura não é a ideal para o mosquito manter-se vivo. O que se vai matar? Para quê as pulverizações?
2- O ataque ao mosquito deveria centrar-se na eliminação dos criadouros porque se eles não existissem os ovos não se transformariam em larvas e estas em mosquitos;
3- Neste momento, não adianta eliminar os mosquitos, (aliás presumo que não os encontrarão), pois, entretanto já puseram ovos e estes, mais cedo ou mais tarde, vão transformar-se em novos mosquitos – é gastar dinheiro sem eficácia.
4- As pulverizações não matam os ovos, pois estes sobrevivem enquistados, fazendo face às condições adversas do ambiente. Vão eclodir na próxima Primavera.
5- A aplicação sistemática de insecticidas pode levar à criação de resistências por parte dos mosquitos.
6- A aplicação de insecticidas – os insecticidas são venenos – põe em risco a população, pois são substâncias que têm efeitos alergénicos e tóxicos para o sistema nervoso. Isto é particularmente grave em crianças, idosos e pessoas alérgicas.
7- Não se sabe (não foi tornado público) que substâncias estão presentes nos insecticidas usados. Todas fazem mal mas existem umas com efeitos mais nefastos que outras. Normalmente os produtos usados para matar as larvas dos mosquitos são substâncias organofosforadas que têm efeitos graves sobre os músculos e os nervos e além disso podem provocar mutações.
Não quero com isto dizer que não se devam fazer pulverizações, mas não como solução preferencial. É verdade que se matam muitos mosquitos, mas como as pessoas já perceberam, isto é sol de pouca dura. Os mosquitos voltam.
Se eu mandasse, mobilizava a população, o exército, as escolas, etc, para um fim-de-semana ( ou mais) de luta contra o Aëdes, para fazermos uma limpeza, a sério, de todos os terrenos baldios, ribeiras, quintais, jardins públicos, ruas, etc., das zonas afectadas, numa acção que chamaria a atenção da população para a necessidade de TODOS sermos responsáveis para mudarmos os nossos comportamentos de modo a evitar que esta praga se alastre. Este é um trabalho que tem de ser feito agora no Inverno: destruir os criadouros, com remoção e com limpeza com água, escova e sabão.
Os panfletos distribuídos pela Saúde Pública estão bem feitos. O problema é que as pessoas não têm paciência para lê-los. E se os lêm não passam à prática os comportamentos que lá se indicam. Porquê? Porque saber não é fazer. É necessário mais qualquer coisa para motivar as pessoas.