H5N1 - possibilidade de transmissão entre pessoas
Hoje vou referir um estudo realizado por Yang Y*, Halloran ME*#, Sugimoto J*#, e Longini IM*# (*Fred Hutchinson Câncer Research, Seattle, Whashington, USA; e #University of Washington, Seattle, Whashington, USA.) para detectar se é possível a transmissão do H5N1 de pessoa para pessoa.
Entre os casos de pessoas infectadas pelo H5N1, foram documentados 31 clusters de famílias, com
Este estudo incidiu na análise de dados relativos aos dois maiores clusters familiares ocorridos: um na Indonésia, outro na Turquia.
Indonésia, Maio de 2006:
No mês de Abril e início do mês de Maio de 2006, as autoridades de saúde pública da Indonésia detectaram e investigaram, em Sumatra, um grupo de 8 pessoas, todas da mesma família, que ficaram doentes. Sete delas residiam em 3 casas contíguas da aldeia de Kubu Sembilang. O outro familiar residia a
A paciente “inicial”, era uma mulher de 37 anos, (designada partir de agora por “M”) que mantinha uma banca no mercado local onde vendia frangos vivos e que referiu ter estado exposta a aves mortas e a excrementos de frangos, antes de ficar doente. Apesar de não ter sido confirmado que a sua doença tenha sido causada pelo H5N1, morreu a 5 de Maio com a suspeita da sua doença ser mesmo devida ao H5N1 por causa dos sintomas, da progressão da doença e do prévio contacto com animais doentes ou mortos.
Vinte membros da família de M estiveram em contacto com ela, numa reunião familiar ocorrida a 29 de Abril, altura em que se encontrava manifestamente doente, com muita tosse e prostração. Nessa noite, 9 pessoas da família dormiram no mesmo quarto de M, sendo esse quarto muito pequeno. Destes 9 familiares, 2 dos seus filhos (15 e 17 anos de idade) e o seu irmão de 25 anos, que viviam em Kabanjahe, ficaram doentes nas 3 semanas seguintes. Os filhos morreram; o irmão foi o único deste cluster a recuperar.
Dos restantes 11 familiares, 4 ficaram doentes e morreram: (1) a irmã de 29 anos, que vivia na casa ao lado, ficou doente depois de prestar cuidados a M; (2) a sua filha de 18 meses esteve com ela enquanto prestava cuidados à sua irmã; (3) um sobrinho de M de 10 anos que vivia numa das casas adjacentes depois da reunião de família e de algumas visitas à sua tia doente; (4) o pai do sobrinho ficou doente depois de ter cuidado do filho.
A possibilidade do H5N1 ter sido transmitido do sobrinho ao seu pai foi confirmada por análises genéticas. Em todos os casos, com excepção de M, foi confirmada a presença do H5N1 através de técnicas de PCR (polimerase chain reaction = reacção em cadeia pela polimerase). Como medida de intervenção, 54 familiares e as pessoas que estiveram em contacto com as pessoas doentes foram colocadas em quarentena voluntária e todos, com excepção das mulheres grávidas e das crianças, receberam oseltamivir (Tamiflu) como medida profilática.
Turquia, Dezembro de 2005
Entre 18 de Dezembro de 2005 e 25 de Janeiro de 2006 foram detectados 8 casos confirmados de gripe das aves em pessoas da mesma família no distrito de Dogubayazit, Turquia. Estas pessoas pertenciam a uma família com 21 membros distribuídos em 3 casas que distavam
Dez das restantes 14 pessoas da família residentes nas três casas em questão, foram hospitalizadas com sintomas semelhantes aos da gripe das aves, mas nunca foi confirmado se de facto foram infectadas pelo H5N1. Todas estas pessoas com excepção de uma eram crianças entre os 6 e os 15 anos de idade.
Antes do aparecimento dos sintomas, 4 crianças de uma das casas, três das quais com diagnósticos confirmados, referiram ter estado em contacto directo com os corpos de frangos doentes mortos. Os dois casos confirmados da segunda casa referiram ter morto ambos, um pato, a 1 de Janeiro de 2006. Os dois restantes casos confirmados moravam na terceira casa e não tinham história de contacto com aves. De referir que as 21 pessoas destas três casas tinham estado num jantar oferecido pela família onde apareceu o primeiro caso no dia 24 de Dezembro, embora não houvesse ainda nenhum sintoma da doença.
Através de métodos estatísticos e de modelos de probabilidade de transmissão, a equipa de investigadores deste estudo apresentou evidências estatísticas de que a estirpe viral que causou a doença na família de Sumatra foi transmitida de pessoa para pessoa, mas não encontrou essas evidências estatísticas na família da Turquia.
Apesar de terem chegado à conclusão de que a transmissão de pessoa para pessoa tenha provavelmente ocorrido, não foi possível determinar se o vírus é capaz de manter uma transmissão sustentável entre os humanos.
Também demonstraram que os antivirais podem ser efectivos na contenção de potenciais estirpes pandémicas, se administrados nas primeiras 3 semanas a partir do aparecimento do primeiro caso, não apenas aos doentes mas também profilacticamente às pessoas que estiveram em contacto com os doentes (possivelmente os vizinhos, escolas, locais de trabalho, etc). De referir que a quarentena voluntária também contribui para a contenção da doença.
Quem estiver interessado em mais pormenores acerca deste estudo pode consultar: http://www.cdc.gov/eid/content/13/9/pdfs/07-0111.pdf
1 Comentários:
Ouvi dizer que só era perigoso se o virus da gripe normal se misturasse com o H5N1 na mesma pessoa e que ela podia passar a gripe das aves para outras pessoas. É verdade?
16/11/2007, 00:26:00
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