segunda-feira, novembro 05, 2007

Aëdes aegypti na Madeira

Ando preocupada com os mosquitos de “Santa Luzia”. Eles, na verdade, são os temíveis Aëdes aegypti que podem transmitir o dengue que é uma doença infecciosa causada por um vírus (arbovirus).


O primeiro local onde apareceram foi em Santa Luzia e daí o nome por que são conhecidos pela população. As pessoas picadas desenvolvem reacções inflamatórias enormes e que deixam uma marca perene na sua pele. Por enquanto, não temos problemas com a transmissão do dengue porque a população de mosquitos (pelo menos que se saiba e confiando nas autoridades sanitárias) não está infectada.


Não sei se as pessoas encarregadas de planear e executar as acções de combate ao mosquito, que se saiba, médicos e empresas de desinfestação, percebem alguma coisa da sua bioecologia. É evidente que estamos perante um problema de saúde pública e, como tal, é legítimo e adequado o combate a partir dos organismos de saúde pública, mas essa equipa deveria incluir, também, etólogos ou biólogos, sociólogos, professores, antropólogos, devido à estreita ligação entre o comportamento dos mosquitos e dos humanos.


Sabe-se da literatura científica que o Aëdes aegypti está altamente adaptado ao modus vivendi dos humanos. Ao longo de uma estratégia adaptativa de qualidade excepcional que passou a usar como criadouros os inúmeros objectos descartáveis que a sociedade moderna criou, o mosquito, seleccionou uma grande produtividade que lhe confere um carácter populacional explosivo. Sabendo que estes mosquitos são os vectores de muitos arbovirus, além dos quatro tipos do dengue e também da febre amarela, é necessário estar atento aos riscos de epidemias.


O Aëdes aegypti está adaptado ao ambiente urbano e é um mosquito que está activo durante o dia (exactamente como o homem) e, por certo, alguma vantagem encontrou ao longo da sua evolução, para ter os mesmos horários que o homem. Reparemos no fato que veste: riscas claras e escuras representam uma boa camuflagem para passar despercebido nos ambientes interiores das nossas casas. Mais, não faz zumbidos com o bater das suas asas, de modo que também por aí, não notamos a sua presença. Esconde-se preferencialmente nas zonas sombrias das casas, debaixo das camas, das cadeiras, das pias de lavar louça, etc., mas também pode ocupar as os espaços mais sombrios dos jardins e dos quintais. Com voos rente ao solo, pica de um modo geral as pernas e os tornozelos das pessoas, suga-lhes o sangue sem que elas dêem por isso, pois introduz um anestésico que impede sentir a picada. A vítima só se apercebe de ter sido picada, quando sente um prurido no local da “refeição aëdina” resultado da reacção às proteínas estranhas da saliva do mosquito. Melhor, da fêmea.


Algum estímulo atractivo enviamos às fêmeas do Aëdes aegypti!


Os machos, durante toda a sua vida, contentam-se com líquidos vegetais açucarados, mas as fêmeas, que também se deliciam com eles, sentem uma necessidade de sangue depois do acasalamento, para a maturação dos seus ovos.


A maior parte dos mosquitos deposita os seus ovos directamente na água, mas o Aëdes aegypti adaptou-se a fazer a postura nas paredes de pequenos recipientes manufacturados pelo homem, um pouco acima da superfície da água. Após a postura, o embrião desenvolve-se num período de dois a três dias, tornando-se então os ovos resistentes à secura. Isto quer dizer que, mesmo que estes recipientes permaneçam secos durante algum tempo, continuam contaminados pois os ovos permanecem colados nas suas paredes: logo que se encham de novo de água e que esta atinja os ovos, estes, serão estimulados a continuar o seu desenvolvimento e a eclodir. É neste criadouro que a nova geração de mosquito de desenvolverá passando pelas fases de larva, de pupa e finalmente de mosquito adulto.


O que se tem observado é que se têm feito desinfestações, quer através de pulverizações das zonas onde se regista um maior número de picadas, quer através do uso de larvicidas nas sarjetas, quando a proliferação de mosquitos é maior. O calor e a humidade favorecem o crescimento das populações de mosquitos e, é nessas alturas previsíveis que tanto as autoridades sanitárias como as populações que são alvo da sua picada se lembram de meter mãos á obra de combate ao mosquito. Talvez fosse boa ideia usar um combate sustentável, durante todo o ano, eliminando os ovos resistentes nos meses mais frios, aliando-nos assim à natureza.


O que é fácil de dizer não é fácil de fazer. É necessário explicar às pessoas a razão das medidas indicadas para impedir a reprodução dos mosquitos, é necessário explicar o que é o dengue e como as pessoas se infectam, é necessário fazer campanhas nas escolas de modo a tornar os alunos pró-activos, é necessário que os próprios serviços do estado cumpram também as medidas que recomendam, não só nos edifícios públicos como também nos jardins e parques (veja-se o mau exemplo dos jardins do Hinton!) e, mais do que tudo, é necessário desenvolver e adoptar estratégias para que as pessoas acreditem na eficácia das medidas que estão a tomar de modo a realmente alterarem os seus comportamentos.


É por tudo o que escrevi que digo que só a equipa de médicos e técnicos de desinfestação, por muito boa vontade, (honra lhes seja feita ao seu trabalho e empenho) não vai ganhar a corrida contra o Aëdes aegypti.

13 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Concordo que este assunto não deve estar a ser bem encaminhado... e não é brincadeira nenhuma!

05/11/2007, 02:58:00

 
Blogger A Professorinha disse...

Houve um ano em que eu estava na Madeira em que esses mosquitos apareceram... As pessoas andavam muito preocupadas... Pensei que tinham desaparecido..

Beijos

06/11/2007, 23:18:00

 
Anonymous Anónimo disse...

O que me preocupa é a sua incrível adaptação ás zonas urbanas...
Tem mesmo de ser considerado um assunto de saúde pública!

07/11/2007, 00:31:00

 
Blogger MMV disse...

Esse animalzinho espero que fique extinto... Não haverá outro animal que o "coma"?!

Enfim...

Fiquei muito feliz por ter conhecimento do seu blogue, e muito obrigado pela sua visita!...

É sempre bem vindo mais um blogue sobre a Madeira!

07/11/2007, 21:13:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Parabens! Ainda bem que há alguem é capaz de falar, com conhecimentos de causa, dos terriveis mosquitos, que parecem nao afligir os responsaveis pela saude pública na Madeira...

07/11/2007, 22:02:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Ainda bem que levanta este assunto de saude pública, como é o caso do aedis aegyti,esclarecendo consciencias, para o grave probema desta praga.Pois alem de ser necessário pressionar as autoridades sanitárias, a tomarem medidas eficases, no combate ao mosquito, tambem todos nós devemos colaborar nessa cruzada, não tendo atitudes negligentes que facilitem a sua reprodução.
Dai a importancia de esclarecimentos como este seu blog.

level

08/11/2007, 23:04:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Ouvi falar, que na Madeira criaram uma fabrica de moscas...
agora.... arrumem lá os mosquitos!!!

10/11/2007, 01:47:00

 
Blogger eu disse...

para "a outra"

Se calhar até não era má ideia; à semelhança do que é feito para a Drosophila melanogaster, vulgarmente conhecida por mosquinha da fruta, criar numa fábrica machos estéreis do Aedes aegypti e lançá-los no ambiente. Assim os mosquitos fêmeas acasalavam com eles mas os ovos não eram viáveis! Não sei é se é fácil!

10/11/2007, 15:44:00

 
Blogger eu disse...

No comentário anterior indiquei erradamente, Drosophila melanogaster. A verdade é que a biofábrica da Madeira, produz machos estéreis da espécie Ceratitis capitata que é também uma mosquinha da fruta, dos citrinos. Pelo erro, as minhas desculpas.

11/11/2007, 22:37:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Ouvi dizer que o tal mosquito (o "AA")veio à boleia nas palmeiras do Hinton e que o Jorge Welsh sabia e que foi por isso que se deitou no chão mais a irmã pois, segundo consta, o tal mosquito - o AA (também há quem lhe chame o AiAi)não pica quando se está na posição de deitado. Mas isso é o que se diz!

14/11/2007, 20:18:00

 
Anonymous Anónimo disse...

tá tudo doido nessa ilha...
1ºOs mosquitos vêem á boleia nas Palmeiras,assim com aquele aspecto que já vimos na foto, prontos a sugar o nosso sangue.
2ºficam á espera que as pessoas acordem e se levantem...nao gostam de pessoal a dormir...
3ºisto poe, qualquer cientista que se preze, ainda mais maluco.
Conclusao:da fama nao se livram dos mosquitos tb nao.

15/11/2007, 19:56:00

 
Anonymous Anónimo disse...

ah!ah!

01/12/2007, 16:56:00

 
Anonymous Anónimo disse...

ah!ah!

01/12/2007, 16:56:00

 

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