sábado, novembro 03, 2007

H5N1: o perigo é real

Até há pouco tempo muitos cientistas acreditavam que a possibilidade do H5N1 infectar e ser transmissível entre humanos era remota. Hoje a questão coloca-se não no “se” mas sim no “quando”. E quando isso acontecer a transmissão através do globo, será rápida e devastadora.

O vírus da gripe das aves é um vírus Influenza A e chama-se H5N1 devido à existência, na sua parte exterior, de duas estruturas: a hemaglutinina (“H”- são conhecidas 16) e a neuraminidase (“N” – são conhecidas 9). Daqui se depreende que são possíveis muitas combinações entre H e N; nas aves encontram-se todas as combinações mas no homem, normalmente, só existem as combinações entre H1N1, H1N2, H1N3, H2N1 H2N2, H2N3, H3N3.

Para os vírus da gripe infectarem os humanos é necessário que se repliquem no interior de algumas células. Para tal, a hemaglutinina viral terá de ligar-se a receptores presentes nas células do nariz/garganta e nos pulmões. O vírus da gripe das aves prefere ligar-se ao açúcar chamado ácido siálico α-2,3 e os vírus adaptados aos mamíferos preferem o ácido siálico α-2,6. Os mamíferos possuem a fórmula α-2,3 nos pulmões e a fórmula α-2,6 no nariz e na garganta. Como o N5N1 se liga ao açúcar α-2,3 pensa-se que é por isso que provoca infecções catastróficas nos pulmões mas não é capaz de se transmitir de pessoa para pessoa, uma vez que não consegue ligar-se e replicar-se no nariz /garganta.

Uma das características dos vírus é a sua constante evolução através de mutações sendo possível prever quais as mutações necessárias para o H5N1 infectar mais facilmente os humanos.

Ora acontece que, a equipa liderada pelo virologista Dr. Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison, publicou no Public Library of Science Pathogens, a 5 de Outubro passado, que tinha identificado uma mutação chave que poderá ter dado ao H5N1 a ferramenta necessária para infectar e se propagar mais facilmente entre os humanos.

A temperatura do corpo das aves anda à volta dos 41 °C e a dos humanos é de 37 °C. Já no nariz e na garganta, que é por onde os vírus normalmente entram, a temperatura anda à volta dos 33 °C. Quer isto dizer que o H5N1 não se dá bem nestas temperaturas baixas. O problema é que a equipa do Dr. Kawaoka identificou uma mutação em apenas um aminoácido (os aminoácidos são como que os blocos de construção das proteínas) da proteína viral que permite ao H5N1 viver bem nas temperaturas mais baixas do aparelho respiratório superior humano!

Está claro que são necessárias mais mutações, não se sabe quantas, para que o H5N1 se torne na causa de uma pandemia, como por exemplo, o adaptar-se a novos receptores.

Parece que o primeiro passo na estratégia do vírus está dado. Agora é uma questão de tempo.

3 Comentários:

Blogger eu disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

05/11/2007, 02:51:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Fala quem sabe! e muito bem...
voce é... uma verdadeira
cientista !!!deu-me uma explicação asustadora,mas real do virus e das bicharadas todas que circulam a nossa volta.
Acha que "nós" vamos escapar?

08/11/2007, 18:44:00

 
Blogger eu disse...

para "a outra disse"

Obrigada pelo comentário. A minha opinião é que quem estiver preparado, informado, terá mais probabilidades de não só escapar à pandemia como também ajudar os outros.Conto escrever sobre isso.

08/11/2007, 19:32:00

 

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