quinta-feira, janeiro 31, 2008

O outro lado das flores

Não conheço ninguém (pelo menos mulher) que não goste de receber flores. Não sou a excepção para confirmar a regra. Mas sempre que recebo flores, fico dividida entre o prazer que elas me dão e o mal que o seu processo de produção faz. Este assunto tem estado latente no meu subconsciente, mas ontem, voltou a tornar-se bem consciente, ao ler a revista da Deco, a Proteste nº288, Fev 2008 que aborda o assunto. São os pesticidas, o enorme consumo de água e as deficientes condições de trabalho a que são sujeitos os trabalhadores, muitas vezes recorrendo à mão-de-obra infantil que estão no cerne desta questão ética. Porque a defesa do ambiente é uma questão ética também. A grande utilização de pesticidas, além das graves consequências ambientais que todos já sabemos, acarreta também problemas para a saúde dos trabalhadores que a eles são expostos todos os dias, sem protecção, em jornadas de mais de 12 horas de trabalho, mal remunerado. Acontece nos países em desenvolvimento. Gente que não tem outra fonte de rendimento.

Que podemos nós fazer?


Exigir que nos informem se o produtor respeita os direitos dos trabalhadores e o ambiente. Existem símbolos que deveriam estar visíveis e que nos informariam a esse respeito. Só que o consumidor, que somos nós, nunca chega a saber isso. Então, vamos exigir saber a proveniência das flores que nos dão tanto prazer, pela sua beleza da forma, da cor, do cheiro, do símbolo
que representam, pelo acto da entrega.


Esta imagem foi retirada da revista proteste citada acima e mostra os símbolos que indicam que o produtor respeita os direitos dos trabalhadores e o ambiente, mas que, segundo a Deco, não são divulgados nas lojas.

sábado, janeiro 26, 2008

A água de beber e o H5N1

Como se infectam as aves com o H5N1?

Não apenas mas também através da água.

Reparem que os caminhos da infecção em aves seguem os cursos de água. Por algum motivo será.

E as pessoas que “apanham” gripe das aves, como se infectam?

Já se sabe que podem infectar-se através das fezes, do sangue e das penas de aves infectadas, mas pesquisas recentes trazem novas preocupações. Até agora o H5N1 tinha de atingir os brônquios e os pulmões para infectar os humanos; mas já apareceram infecções recentes em que foi afectado o sistema respiratório superior: as membranas mucosas da garganta através do acto de beber e as membranas mucosas do nariz e provavelmente da conjuntiva ocular assim como do tímpano, através do banho. Em alguns casos, que ocorreram no Vietname e na Tailândia, o estômago e os intestinos foram contaminados pelo H5N1 mas não os brônquios e os pulmões sendo provável que os virus tenham entrado no organismo oralmente, através da ingestão de água contaminada.

Mas a água não é desinfectada?

É, mas os processos convencionais de desinfecção das águas são pobres, porque os microorganismos na água não se encontram em suspensão mas sim embebidos em partículas.

Isto quer dizer que a água usada para beber não se encontra livre de virus. Aliás, nos climas temperados, as fortes infecções sazonais como as provocadas por norovirus, rotavirus, salmonella, campylobacter e virus da gripe, são principalmente desencadeadas pela água que bebemos e dependentes da temperatura dessa mesma água - na Alemanha, por exemplo, ocorrem durante o mínimo de temperatura em Fevereiro e Março e durante o máximo de temperatura em Agosto.

Todos sabemos que a gripe é transmitida pelas gotículas de saliva das pessoas infectadas, mas não existe evidência que esta seja a via principal:

1. nos climas temperados a forte interdependência entre as infecções de gripe e as temperaturas ambientais não pode ser explicada pela transmissão biótica primária entre humanos, através das gotículas de saliva;

2. nos climas quentes e nos trópicos as gripes relacionadas com as inundações, típicas após o mau tempo e naturais após as cheias, também não podem ser explicadas pela transmissão oral.

Deverá então haver um veículo abiótico, como a água de beber.

Bonito, não é?

Quanto mais aves infectadas maior o perigo! Percebe-se! E isso preocupa-me também.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

H5N1 - continua a alastrar...

Cada vez mais me preocupa o rumo que as coisas estão a tomar em relação à dispersão do H5N1 pelo mundo. Desde Dezembro foram afectados mais 15 países! Do meu ponto de vista, as medidas tomadas poderão não estar a dar os resultados esperados, pelo menos nos países em desenvolvimento.

A situação na India está caótica e fora do controlo, apesar das autoridades sanitárias dizerem o contrário (é sempre assim). No último mês cerca de dez mil aves caíram mortas nas zonas rurais de West Bengal, constituindo o maior surto de H5N1 na história da Índia, segundo a OMS. O governo indiano mobilizou os veterinários e a guarda nacional para o ataque a esta crise, para queimar dois milhões de aves, quer migratórias quer domésticas. O problema é que os aldeões estão a resistir a estas medidas, desconfiando delas, escondendo as aves e, o que é mais grave, comendo as aves fortemente suspeitas de estarem contaminadas com o H5N1. Os vendedores baixaram muito o preço das aves, vendendo aves doentes e até mortas. Assiste-se assim a um verdadeiro festim, onde muitos aldeões pobres, que no seu dia-a-dia não têm dinheiro suficiente para comprar carne, aproveitam esta oferta.

Sabe-se que na Índia as pessoas convivem de muito perto com as aves, sendo a criação de aves praticamente a única fonte de proteínas, uma vez que não comem carne de vaca. Ora quanto mais aves infectadas, maior a possibilidade do virus infectar humanos e abrir caminho para a ocorrência de mutações que o tornem mais facilmente transmissível de pessoa para pessoa. Existem quarto casos suspeitos de pessoas com sintomas de gripe das aves que estão hospitalizadas e isoladas e cujo sangue está a ser analisado para confirmar ou não a presença do H5N1.


Este sítio mostra-nos a extensão do problema.

terça-feira, janeiro 15, 2008

O H5N1 e o Tamiflu

Segundo a OMS, as pessoas que morreram infectadas pelo H5N1 no Egipto, mostraram uma resistência moderada ao Tamiflu, o que é deveras preocupante.

Como toda a gente já percebeu, os virus sofrem muitas alterações e esta resistência moderada é quase de certeza devida à mudança genética N294S encontrada o ano passado, em Gharbiva, Egipto. A N294S foi encontrada em amostras colhidas antes da administração do Tamiflu, o que mostra que os virus H5N1 com esta mudança genética andam a circular no Egipto. Dito por outras palavras, a resistência ao Tamiflu encontrada no H5N1 estava presente antes do tratamento.

O Tamiflu é largamente usado no Egipto o que levanta a possibilidade de haver selecção da sequência N294S. Alias, é a selecção que pode explicar o facto de haver múltiplos pacientes com N294S num pequeno número de casos fatais confirmados. Poderão os vírus H5N1 com a sequência N294S estarema tornar-se dominantes no Egipto?

Perceberam que o medicamento mais eficaz para combater o H5N1 pode não servir para nada? Será útil armazenar Tamiflu?


Neste local pode ver o mapa do Egipto com os casos suspeitos e confirmados de gripe por H5N1. Não quer dizer que os casos suspeitos sejam efectivamente de infecções H5N1 mas também não que dizer que não o sejam; a confirmação exige exames que levam tempo e muitas vezes, devido a muitos constrangimentos, nunca se chega a ter certezas.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

H5N1: mais perto da pandemia?

Depois de passadas as festas, é tempo de voltar aos “posts”; como agora os mosquitos estão calmos e pelo contrário os virus estão “alfaria”, vou dedicar os próximos posts ao H5N1.
O dengue é grave mas uma pandemia de gripe H5N1 é catastrófica! Presentemente a gripe das aves mata 61% das pessoas infectadas! Grosso modo, em cada três pessoas infectadas, duas morrem!

Estará o H5N1 a dar os primeiros passos para passar a transmitir-se entre humanos? Existem alguns relatos que deixam esta dúvida. Num post anterior referi uma mutação que coloca o H5N1 mais próximo de passar de humano para humano ( sigla “H2H”, do inglês “Human to Human”). Ainda noutro post relatei uma situação em que foi provada a tansmissão entre humanos.

Mais recentemente, um exemplo:
A meados de Dezembro, na China, ocorreu transmissão entre humanos? Não vi nenhuma conclusão acerca deste caso em que pai e filho ficaram doentes com gripe das aves. Algumas questões perturbadoras e inoportunas podem ser colocadas acerca da forma como estes dois homens se infectaram. Segundo a agência noticiosa Xinhua, o filho não teve nenhum contacto com aves mortas e as autoridades veterinárias disseram não haver nenhum surto epidémico de gripe das aves na província onde estes dois homens vivem. O filho morreu e, segundo as autoridades chinesas, o pai recuperou depois de tratado com Oseltamivir. Mas segundo outras fontes, como o Epoch Times, as coisas não se passaram assim - o pai também morreu e pelo menos duas pessoas que estiveram em contacto com eles ficaram doentes.

Serão apenas rumores? Não quererão as autoridades chinesas abafar o caso? Será que aconteceu apenas este?

Foram identificados casos de possível transmissão H2H em Hong-Kong, Vietnam e Indonésia mas a China nunca confirmou nenhum, apesar da irmã de um rapaz chinês diagnosticado com gripe por H5N1 ter ficado doente e ter morrido em 2005. Neste caso também não conseguiram confirmar se efectivamente era ou não infecção por H5N1.

E agora, o que se passa no Egipto? Tenho muito receio do que se está a passar no Egipto.