A minha neta tem 4 anos e gosta muito de collants coloridos. Ao reparar no seu jeito para as vestir (muitas mulheres desejariam fazê-lo como ela, tenho a certeza!) perguntei-lhe como era capaz de o fazer tão bem, ao que me respondeu:
- Avó, eu já faço isto há milhões de anos!
De imediato comecei a pensar que, como ela, nós também não sabemos verdadeiramente o que é um milhão de anos! Lembrei-me de quando andava na Universidade a estudar as cadeiras de Geologia ter tido a mesma sensação de desconforto em relação a isso a que chamamos tempo. Percebemos o tempo sempre em referência a alguma coisa, nem que seja quando ele nos falta … para fazermos alguma coisa. É por isso que o nosso tempo se mede em anos e o tempo da terra se mede com outra unidade de referência – um milhão de anos.
Se pensarmos, por exemplo, no tempo que foi necessário para que um rio escavasse o seu leito, cortando as rochas que agora o flanqueiam, e, anteriormente, para que estas mesmas rochas estratificadas se depositassem no fundo do mar e para que depois se pregueassem e se elevassem até à altura a que as encontramos hoje em dia, perceberemos que, tudo se desenrolou a um ritmo, para nós quase imperceptível que e é exactamente o que nos dá a sensação da imutabilidade de uma paisagem. Porque o nosso tempo é curto (diria zero) comparado com o da Terra.
Para nós humanos, é muito difícil compreeender o que representa um milhão de anos porque é algo que sai da nossa própria experiência. Enquanto que para um homem um século representa toda a sua vida (ainda sobram uns anitos!), geologicamente não significa nada - as montanhas, os vales, a costa marítima, de há cem anos atrás eram mais ou menos como agora, com algumas diferenças insignificantes. Estamos no século XXI e podemos pensar que desde o nascimento de Cristo, um rio pode ter desviado o seu curso alguns metros ou uma costa marítima ter retrocedido ou avançado também alguns metros, mas isso não mostra uma mudança fundamental. Agora um milhão de anos, já pode mudar realmente a face da terra. Percebemos isso?
Um outro aspecto interessante é o efeito de “perspectiva” temporal, que nos faz ver como muito próximos entre si, fenómenos geológicos que realmente ocorrem a distâncias de vários milhões de anos uns dos outros. Este efeito de “perspectiva” é tanto mais evidente quanto mais antigos são os acontecimentos. Por exemplo, os dinossaurios apareceram na Terra há 231 milhões de anos e extinguiram-se há 65 milhões de anos; o aparecimento do homem primitivo aconteceu há um milhão de anos. Se fizermos as contas verificamos que entre os dois primeiros acontecimentos se passaram 176 milhões de anos e entre o segundo e o terceiro se passaram 64 milhões de anos. Essa diferença é significativa para nós? Percebemos realmente essa diferença? Será que isso é importante?
Tenho a impressão que a minha neta tem mais a certeza do que é um milhão de anos do que eu!