domingo, junho 29, 2008

Can you count with me?

Tenho por hábito escrever as coisas engraçadas que acontecem com a minha família. Aponto no papel que tenho à mão para não me esquecer mas depois facilmente me esqueço do lugar onde o "guardei".

Nestes últimos dias tenho andado a fazer arrumações e encontrei um desses papéis referente ao meu neto quando tinha três anos. Nessa altura ele “sabia” contar até dez em inglês, identificava as côres também em inglês e reproduzia o que ouvia nos desenhos animados. Uma tarde, durante as suas brincadeiras, disse:
-I need an airplane.
-What for? – perguntei eu.
-Five – respodeu ele.

quarta-feira, junho 18, 2008

Um milhão de anos?

A minha neta tem 4 anos e gosta muito de collants coloridos. Ao reparar no seu jeito para as vestir (muitas mulheres desejariam fazê-lo como ela, tenho a certeza!) perguntei-lhe como era capaz de o fazer tão bem, ao que me respondeu:
- Avó, eu já faço isto há milhões de anos!

De imediato comecei a pensar que, como ela, nós também não sabemos verdadeiramente o que é um milhão de anos! Lembrei-me de quando andava na Universidade a estudar as cadeiras de Geologia ter tido a mesma sensação de desconforto em relação a isso a que chamamos tempo. Percebemos o tempo sempre em referência a alguma coisa, nem que seja quando ele nos falta … para fazermos alguma coisa. É por isso que o nosso tempo se mede em anos e o tempo da terra se mede com outra unidade de referência – um milhão de anos.

Se pensarmos, por exemplo, no tempo que foi necessário para que um rio escavasse o seu leito, cortando as rochas que agora o flanqueiam, e, anteriormente, para que estas mesmas rochas estratificadas se depositassem no fundo do mar e para que depois se pregueassem e se elevassem até à altura a que as encontramos hoje em dia, perceberemos que, tudo se desenrolou a um ritmo, para nós quase imperceptível que e é exactamente o que nos dá a sensação da imutabilidade de uma paisagem. Porque o nosso tempo é curto (diria zero) comparado com o da Terra.

Para nós humanos, é muito difícil compreeender o que representa um milhão de anos porque é algo que sai da nossa própria experiência. Enquanto que para um homem um século representa toda a sua vida (ainda sobram uns anitos!), geologicamente não significa nada - as montanhas, os vales, a costa marítima, de há cem anos atrás eram mais ou menos como agora, com algumas diferenças insignificantes. Estamos no século XXI e podemos pensar que desde o nascimento de Cristo, um rio pode ter desviado o seu curso alguns metros ou uma costa marítima ter retrocedido ou avançado também alguns metros, mas isso não mostra uma mudança fundamental. Agora um milhão de anos, já pode mudar realmente a face da terra. Percebemos isso?

Um outro aspecto interessante é o efeito de “perspectiva” temporal, que nos faz ver como muito próximos entre si, fenómenos geológicos que realmente ocorrem a distâncias de vários milhões de anos uns dos outros. Este efeito de “perspectiva” é tanto mais evidente quanto mais antigos são os acontecimentos. Por exemplo, os dinossaurios apareceram na Terra há 231 milhões de anos e extinguiram-se há 65 milhões de anos; o aparecimento do homem primitivo aconteceu há um milhão de anos. Se fizermos as contas verificamos que entre os dois primeiros acontecimentos se passaram 176 milhões de anos e entre o segundo e o terceiro se passaram 64 milhões de anos. Essa diferença é significativa para nós? Percebemos realmente essa diferença? Será que isso é importante?

Tenho a impressão que a minha neta tem mais a certeza do que é um milhão de anos do que eu!

sábado, junho 07, 2008

Emoções, informação e computadores

A noite passada dormi mal e, como não consegui estar mais tempo na cama, levantei-me…

Vim para uma sala cheia de computadores, DVDs, CDs, videocassetes, leitores e gravadores, colunas de som … e, ao olhar para tudo aquilo, veio-me a certeza de que a única informação que perdura no tempo é aquela que apenas depende do cérebro humano para ser descodificada.

Senão vejamos: para que servem todas estas videocassetes de bonecos animados que paciente e activamente fomos comprando para as nossas filhas quando eram pequeninas? E ainda por cima Betamax! E o vídeo para as ler? Estragado. Ultrapassado. Sem peças para substituir.

E as videocassetes dos acontecimentos importantes das nossas vidas que foram cuidadosamente filmados com muito amor e dedicação?

E os CDs. Montes deles. Para serem passados para MP3.

E os DVDs. Para serem gravados no disco rígido.

Toda esta informação e todas estas emoções gravadas não estão acessíveis. Então para que servem?

Lembro-me perfeitamente quando comprámos o nosso primeiro computador (em 1988) de pensar que agora ia ficar livre de toda a papelada com que um professor sempre anda embrulhado e passar a ter tudo o que precisava a um simples movimento do rato. Realmente livrei-me do papel. Bastava carregar uma disquete. Por segurança, fiz back-ups de tudo, mas o que não previ na altura (e acho que a quase totalidade das pessoas utilizadoras de computadores, também não) é que teria de actualizar constantemente essas cópias de segurança sempre que a evolução nesta área acontecesse. Hoje, com os sistemas avançados que existem, não consigo ler os ficheiros mais antigos. Porque há programas que simplesmente desapareceram. Só se houver uma máquina antiga, algures nesse mundo, ainda a funcionar bem e com os programas que criaram os meus ficheiros é que consigo recuperá-los em boas condições.

O mesmo acontece em relação aos filmes que guardam o crescimento das minhas filhas. Estou a tentar passá-los para DVD. Mas o problema vai transferir-se para mais tarde.

Passa-se o mesmo com as fotografias. Agora guardam-se no computador. E é preciso estar atento com a sua evolução. Agora aprendi. Mas se faltar a energia, se o computador se avariar ou se as apagar acidentalmente, já não as posso ver.

Também andei a pensar que há coisas que os meus netos nunca poderão conhecer. São coisas “pequenas” mas que podem ter um grande significado. Tenho,por exemplo, uma caixinha onde guardo alguns documentos importantes da nossa família e outros menos importantes mas de grande significado. O primeiro recibo da renda do escritório do meu pai. O recibo da renovação da mobília da sala quando fiz 16 anos. Uns versos de amor feitos pelo meu pai e dedicados à minha mãe. Uma mensagem de amor no verso de uma fotografia minha dedicada ao meu namorado…

Hoje pagamos tudo on-line. As mensagens são electrónicas. Agora nada disto é emoção. Agora não é nada.

Já não se escrevem cartas de amor...

Outros tempos.

Com os livros, só dependo do meu cérebro e da minha vontade.

Mas a verdade é que não passo sem o computador!