sábado, maio 31, 2008

Por que se embalam os bebés para o lado esquerdo?


Já repararam que as mulheres quando pegam nos bebés ao colo o fazem colocando-os do seu lado esquerdo do corpo?

As investigações confirmam: cerca de 80% das mulheres têm a tendência para
embalar os bebés para o lado esquerdo do corpo, independentemente do ambiente sócio-cultural e da dominância da mão.

Por que fazem a
s mulheres (inconscientemente) isto?

Investigações mostram que a tendência para embalar os bebés para a esquerda surge cedo no processo de desenvolvimento das raparigas, mas que, contrariamente, não existe ou está pouco desenvolvida nos rapazes; e também m
ostram que esta tendência para embalar para o lado esquerdo se reduz com o aumento da idade da criança, desaparecendo mesmo por volta dos 12 meses.

A razão pela qual surgiu esta tendência para embalar os bebés para o l
ado esquerdo é controversa. A tradição diz que é por causa dos batimentos do coração da mãe que acalmam o bebé, mas alguns investigadores não concordam e estão convencidos que tem a ver com a forma como o nosso cérebro está organizado.

Os biólogos sabem, há muito tempo que os dois hemisférios cerebrais não desempenham a mesma função, um fenómeno que é conhecido por lateralização cerebral. Uma das principais diferenças reside no facto do hemisfério direito se ter especializado mais em descodificar a informação com significado emocional. Também se sabe que a maior parte das imagens captadas pelos campos visual e auditivo esquerdos é processada no hemisfério cerebral direito e que, pelo contrário, a maior parte das imagens captadas pelos campos visual e auditivo direitos é processada no hemisfério cerebral esquerdo.

De acordo com isto, ao embalar a criança para o seu lado esquerdo a mãe vê a cara do filho através do seu campo visual esquerdo, promovendo uma via de com
unicação mais directa com o seu hemisfério cerebral direito, considerado como controlador das emoções. Por outro lado, o bebé é também capaz de ver a face esquerda da mãe que é emocionalmente mais expressiva. Assim, bebé e e avaliam-se mutuamente, conseguindo anticipar comportamentos de sobrevivência.

É interesante
verificar que a tendência de embalar o bebé para a esquerda é independente da dominância da mão, ou seja, é independente da mãe ser dextra ou esquerdina, verificando-se tanto nas dextras como nas esquerdinas. Também são interessantes as explicações dadas em relação a este comportamento. Assim, quando se pergunta às mulheres dextras por que razão embalam o bebé para a esquerda, invariavelmente respondem que é para ficarem com a mão dominante livre, mas quando se faz a mesma pergunta às esquerdinas, respondem que seguram o bebé com o braço esquerdo que é o dominante! Por isso, a dominância da mão não pode ser considerada uma explicação para aquele comportamento.

As investigações também descobriram que os grandes símios, os chimpanzés e os gorilas, apresentam a mesma tendência de pegar nos seus filhotes para o lado esquerdo e este comportamento pode estar a dizer-nos que os cérebros dos grandes símios estão organizados de uma maneira muito semelhantes à dos humanos, com os dois hemisférios, esquerdo e direito, especializados em diferentes funções.


De acordo com as invetigações tudo indica que o comportamento em questão, provavelmente se originou num ancestral comum aos símios africanos e humanos, há cerca de 6 a 8 milhões de anos atrás. Se isto for verdade, quer dizer que o comportamento de embalar o bebé para a esquerda antecedeu em algum tempo o aparecimento do enviesamento da destreza encontrada nas mãos dos humanos, aliás, uma característica apenas da nossa espécie.


Embalar o bebé para a esquerda é então um comportamento muito antigo e que nos diz que a natureza valoriza as emoções, pois parece ter seleccionado e facilitado o fluxo de informação afectiva entre a criança e a sua mãe.

E os pais?


Consultas:
Manning JT, Heaton R, Chamberlain AT. Left-side cradling: Similarities and differences between apes and humans. J. Hum. Evol. 1994;26:77–83.
Manning JT, Chamberlain AT. Left-side cradling and brain lateralisation. Ethol. Sociobiol. 1991;12:237–244.


Fotografias retiradas da NET:
1, 2, 3, 4

quarta-feira, maio 21, 2008

Com quem se parecem os bebés?

Depois de um longo período, difícil, estou de volta aos meus posts.

Uma das primeiras coisas que as pessoas perguntam quando nasce uma criança é: Com quem é parecida?

Esta não é uma pergunta inocente apesar das pessoas não se aperceberem disso.

Todos conhecemos o princípio da certeza da maternidade e da incerteza da paternidade. Como sabe o homem que é o pai biológico da criança?

A partir de duas fontes de informação: 1 - certificar-se da fidelidade da mulher na altura da concepção; 2 – verificar a parecença da criança consigo próprio.

De acordo com isto, é razoável pensar que os homens desenvolveram mecanismos psicológicos sensíveis a estas duas fontes de informação; é também razoável esperar que as mulheres tendam a influenciar a percepção dos homens acerca destes aspectos, tentando, por exemplo, convencê-los que foram fiéis e que os filhos recém-nascidos são parecidos com eles.

De facto, existem estudos que mostram que as mulheres realmente estão motivadas a promover a certeza da paternidade dizendo explicitamente ao seu companheiro que os seus filhos recém-nascidos são parecidos com ele, ou seja, que ele é o seu verdadeiro pai. Se fosse apenas o acaso a funcionar, esperar-se-ia que as mães dissessem que os filhos recém-nascidos eram parecidos com os pais em 50% dos casos e nos outros 50% parecidos com elas; mas na realidade isso não acontece pois as mães referem que o bebé é parecido com o pai em 80% dos casos! Também é interessante verificar que os familiares da mãe mostram este enviesamento: 66% diz que o bebé é mais parecido com o pai e apenas 34% refere mais parecenças com a mãe. Ainda mais interessante é verificar que, ao contrário do que seria de esperar, o enviesamento é maior para a família do pai: 71% refere a parecença do bebé com o pai!

E não é tudo. Existe um estudo que sugere a possibilidade de ter havido uma evolução biológica que seleccionou a presença de um “marcador” físico paterno, reconhecível nos filhos. Neste estudo, um certo número de famílias forneceu fotografias dos seus filhos em diferentes idades – 1, 10 e 20 anos. Metade dos filhos eram do género feminino e a outra metade do género masculino. Também foram tiradas fotografias dos pais e das mães. Foi posteriormente pedido aos participantes no estudo (que não conheciam as famílias das fotografias) para tentarem descobrir quem eram os pais e as mães das crianças. Para isso foram-lhes apresentadas, para cada criança, fotografias de 3 mães (uma das quais era a verdadeira) e fotografias de 3 pais (um dos quais era o verdadeiro).

Se as escolhas fossem feitas ao acaso, o resultado correcto seria encontrado em 33.3% dos casos. E foi exactamente isso que aconteceu com as idades de 10 e 20 anos. Já com a idade de 1 ano o resultado foi o seguinte: em 49.2% dos casos os participantes conseguiram associar a criança ao seu verdadeiro pai e isto para as crianças do sexo feminino e do sexo masculino, mas já não foram capazes de associar as crianças às suas mães biológicas!

Estes resultados podem estar relacionados com o facto das mães estarem certas da sua contribuição genética nos seus filhos, quer eles se pareçam ou não com elas; os pais não têm essa certeza.

Em termos evolutivos, se o pai tiver a certeza que o filho é seu, investirá mais nele. Então:
1- os bebés beneficiam em parecer-se mais com o pai biológico
2- a selecção natural deve ter favorecido os homens que possuem marcadores que se expressem visualmente nos seus filhos de modo a saberem que são os verdadeiros pais
3- deve ser vantajoso para as mulheres suprimir nos seus filhos os traços físicos dos seus genes na aparência dos filhos, porque ao fazê-lo farácom que o pai o reconheça como filho

No fundo, os comentários das pessoas em relação às parecenças do recém-nascido, mostram o resultado de muitos milhões de anos de evolução.

Consultas:
Christenfeld, N. J. S., & Hill, E. A. (1995) Whose baby are you? Nature, 378, 669.
Daly, N., & Wilson, M. (1982) Whom are newborn babies said to resemble? Ethology and Sociobiology, 3, 69-78.

quinta-feira, maio 08, 2008

Sem título

A minha filha perdeu o bebé.