Com quem se parecem os bebés?
Depois de um longo período, difícil, estou de volta aos meus posts.
Uma das primeiras coisas que as pessoas perguntam quando nasce uma criança é: Com quem é parecida?
Esta não é uma pergunta inocente apesar das pessoas não se aperceberem disso.
Todos conhecemos o princípio da certeza da maternidade e da incerteza da paternidade. Como sabe o homem que é o pai biológico da criança?
A partir de duas fontes de informação: 1 - certificar-se da fidelidade da mulher na altura da concepção; 2 – verificar a parecença da criança consigo próprio.
De acordo com isto, é razoável pensar que os homens desenvolveram mecanismos psicológicos sensíveis a estas duas fontes de informação; é também razoável esperar que as mulheres tendam a influenciar a percepção dos homens acerca destes aspectos, tentando, por exemplo, convencê-los que foram fiéis e que os filhos recém-nascidos são parecidos com eles.
De facto, existem estudos que mostram que as mulheres realmente estão motivadas a promover a certeza da paternidade dizendo explicitamente ao seu companheiro que os seus filhos recém-nascidos são parecidos com ele, ou seja, que ele é o seu verdadeiro pai. Se fosse apenas o acaso a funcionar, esperar-se-ia que as mães dissessem que os filhos recém-nascidos eram parecidos com os pais em 50% dos casos e nos outros 50% parecidos com elas; mas na realidade isso não acontece pois as mães referem que o bebé é parecido com o pai em 80% dos casos! Também é interessante verificar que os familiares da mãe mostram este enviesamento: 66% diz que o bebé é mais parecido com o pai e apenas 34% refere mais parecenças com a mãe. Ainda mais interessante é verificar que, ao contrário do que seria de esperar, o enviesamento é maior para a família do pai: 71% refere a parecença do bebé com o pai!
E não é tudo. Existe um estudo que sugere a possibilidade de ter havido uma evolução biológica que seleccionou a presença de um “marcador” físico paterno, reconhecível nos filhos. Neste estudo, um certo número de famílias forneceu fotografias dos seus filhos em diferentes idades – 1, 10 e 20 anos. Metade dos filhos eram do género feminino e a outra metade do género masculino. Também foram tiradas fotografias dos pais e das mães. Foi posteriormente pedido aos participantes no estudo (que não conheciam as famílias das fotografias) para tentarem descobrir quem eram os pais e as mães das crianças. Para isso foram-lhes apresentadas, para cada criança, fotografias de 3 mães (uma das quais era a verdadeira) e fotografias de 3 pais (um dos quais era o verdadeiro).
Se as escolhas fossem feitas ao acaso, o resultado correcto seria encontrado em 33.3% dos casos. E foi exactamente isso que aconteceu com as idades de 10 e 20 anos. Já com a idade de 1 ano o resultado foi o seguinte: em 49.2% dos casos os participantes conseguiram associar a criança ao seu verdadeiro pai e isto para as crianças do sexo feminino e do sexo masculino, mas já não foram capazes de associar as crianças às suas mães biológicas!
Estes resultados podem estar relacionados com o facto das mães estarem certas da sua contribuição genética nos seus filhos, quer eles se pareçam ou não com elas; os pais não têm essa certeza.
Em termos evolutivos, se o pai tiver a certeza que o filho é seu, investirá mais nele. Então:
No fundo, os comentários das pessoas em relação às parecenças do recém-nascido, mostram o resultado de muitos milhões de anos de evolução.
Consultas:
Christenfeld, N. J. S., & Hill, E. A. (1995) Whose baby are you? Nature, 378, 669.
Daly, N., & Wilson, M. (1982) Whom are newborn babies said to resemble? Ethology and Sociobiology, 3, 69-78.
Uma das primeiras coisas que as pessoas perguntam quando nasce uma criança é: Com quem é parecida?
Esta não é uma pergunta inocente apesar das pessoas não se aperceberem disso.
Todos conhecemos o princípio da certeza da maternidade e da incerteza da paternidade. Como sabe o homem que é o pai biológico da criança?
A partir de duas fontes de informação: 1 - certificar-se da fidelidade da mulher na altura da concepção; 2 – verificar a parecença da criança consigo próprio.
De acordo com isto, é razoável pensar que os homens desenvolveram mecanismos psicológicos sensíveis a estas duas fontes de informação; é também razoável esperar que as mulheres tendam a influenciar a percepção dos homens acerca destes aspectos, tentando, por exemplo, convencê-los que foram fiéis e que os filhos recém-nascidos são parecidos com eles.
De facto, existem estudos que mostram que as mulheres realmente estão motivadas a promover a certeza da paternidade dizendo explicitamente ao seu companheiro que os seus filhos recém-nascidos são parecidos com ele, ou seja, que ele é o seu verdadeiro pai. Se fosse apenas o acaso a funcionar, esperar-se-ia que as mães dissessem que os filhos recém-nascidos eram parecidos com os pais em 50% dos casos e nos outros 50% parecidos com elas; mas na realidade isso não acontece pois as mães referem que o bebé é parecido com o pai em 80% dos casos! Também é interessante verificar que os familiares da mãe mostram este enviesamento: 66% diz que o bebé é mais parecido com o pai e apenas 34% refere mais parecenças com a mãe. Ainda mais interessante é verificar que, ao contrário do que seria de esperar, o enviesamento é maior para a família do pai: 71% refere a parecença do bebé com o pai!
E não é tudo. Existe um estudo que sugere a possibilidade de ter havido uma evolução biológica que seleccionou a presença de um “marcador” físico paterno, reconhecível nos filhos. Neste estudo, um certo número de famílias forneceu fotografias dos seus filhos em diferentes idades – 1, 10 e 20 anos. Metade dos filhos eram do género feminino e a outra metade do género masculino. Também foram tiradas fotografias dos pais e das mães. Foi posteriormente pedido aos participantes no estudo (que não conheciam as famílias das fotografias) para tentarem descobrir quem eram os pais e as mães das crianças. Para isso foram-lhes apresentadas, para cada criança, fotografias de 3 mães (uma das quais era a verdadeira) e fotografias de 3 pais (um dos quais era o verdadeiro).
Se as escolhas fossem feitas ao acaso, o resultado correcto seria encontrado em 33.3% dos casos. E foi exactamente isso que aconteceu com as idades de 10 e 20 anos. Já com a idade de 1 ano o resultado foi o seguinte: em 49.2% dos casos os participantes conseguiram associar a criança ao seu verdadeiro pai e isto para as crianças do sexo feminino e do sexo masculino, mas já não foram capazes de associar as crianças às suas mães biológicas!
Estes resultados podem estar relacionados com o facto das mães estarem certas da sua contribuição genética nos seus filhos, quer eles se pareçam ou não com elas; os pais não têm essa certeza.
Em termos evolutivos, se o pai tiver a certeza que o filho é seu, investirá mais nele. Então:
1- os bebés beneficiam em parecer-se mais com o pai biológico
2- a selecção natural deve ter favorecido os homens que possuem marcadores que se expressem visualmente nos seus filhos de modo a saberem que são os verdadeiros pais
3- deve ser vantajoso para as mulheres suprimir nos seus filhos os traços físicos dos seus genes na aparência dos filhos, porque ao fazê-lo farácom que o pai o reconheça como filho
2- a selecção natural deve ter favorecido os homens que possuem marcadores que se expressem visualmente nos seus filhos de modo a saberem que são os verdadeiros pais
3- deve ser vantajoso para as mulheres suprimir nos seus filhos os traços físicos dos seus genes na aparência dos filhos, porque ao fazê-lo farácom que o pai o reconheça como filho
No fundo, os comentários das pessoas em relação às parecenças do recém-nascido, mostram o resultado de muitos milhões de anos de evolução.
Consultas:
Christenfeld, N. J. S., & Hill, E. A. (1995) Whose baby are you? Nature, 378, 669.
Daly, N., & Wilson, M. (1982) Whom are newborn babies said to resemble? Ethology and Sociobiology, 3, 69-78.
9 Comentários:
Obrigado pelo tEU comentario... he, he.
Voltarei por aqui quando tenha alguma dúvida médica que resolver...
A Madeira deve ser um bom lugar para viver.
Um abraço
MARMORLU
21/05/2008, 18:10:00
Já não passava aqui há algum tempo, não sabia do que se tinha passado... espero que as coisas estejam a melhorar...
Quanto ao teu post, tinha um amigo que me dizia que ia pedir o teste de paternidade se algum dia tivesse um filho... lol... que era a única maneira de saber se era dele ou naõ...
Beijinhos
21/05/2008, 23:47:00
Pode até ser psicológico, mas quando fiz a primeira ecografia , (a minha filha já tem 25 anos) o que vi, e não sabendo se era menina ou menino, mas dizia eu, o que vi era alguém paracido com a minha avó materna já falecida há 40 anos.. Só vi a Raquel tres dias depois dela nascer de uma cesariana que não correu lá muito bem.. Ela nasceu ao sábado, e eu acordei na terça feira, e quando vi a minha filha eu já conhecia aquele rosto..era o que tinha visto na eco, sem tirar nem por.. Certo que que por alguma razão que desconheço, todos os meus sobrinhos ao nascer, e mesmo pela vida fora tem expressões muito parecidas com a avó Joaquina que já um dia aqui homenagiei.. Como diria o meu pai, o que não tem explicação, explicado está..um abraço, ell
22/05/2008, 20:46:00
Não é mesmo que os bebés quando nascem se parecem mesmo mais com os pais? Nunca tinha pensado nisso!
23/05/2008, 12:38:00
Olá
Interessante verificar que existe a preocupação depois do nascimento, de fazer a pergunta sobre quem é parecido a criança!
Gostei do tema.
Abraço
23/05/2008, 15:29:00
Nunca havia prestado muita atenção a isso... Mas sem dúvida que é verdade!
Beijinho e muita força!
25/05/2008, 17:50:00
Um estudo bem interessante ... obrigada por o teres partilhado connosco.
Aroveitei para ler alguns dos teus posts antigos e aprendi mais algumas coisas tb. Apesar de ser a primeira vez q aqui passo não posso deixar de lamentar a tua perda.
Deixo-te um abraço
26/05/2008, 23:56:00
Gostei de ler. Fiquei a saber um pouco mais. E é verdade, as pessoas fazem muitas vezes essa pergunta, mas acredito que, pelo manos na maioria das vezes, sem razão.
Beijinhos.
27/05/2008, 11:39:00
É bom visitar o cantinho dos amigos. Somos muitas vezes surpreendidos com um texto que nos deixa a pensar, como este. Na verdade nunca tinha pensado nisto.
Depois lembrei-me do momento em que vi o meu primeiro filho acabadinho de nascer, berrando que nem um desalmado e vi nele a cara chapada do meu sogro. Vi eu e todos os que me visitaram logo a seguir. Quando nasceu o meu segundo filho e olhei para ele pela primeira vez, também reconheci um outro rosto.. mas receando que fosse mania minha, perguntei ao meu marido que estava a assistir ao parto, quem é que ele lhe fazia lembrar. E achei piada o meu marido ter dito que se parecia com o meu pai e parecia-se mesmo.
Portanto ambos se pareciam com os seus avôs e nenhum com o pai.. nem comigo.
A natureza tem destas coisas.
Obrigada pela lição tão interessante.
Beijinhos
27/05/2008, 20:56:00
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial