quarta-feira, maio 21, 2008

Com quem se parecem os bebés?

Depois de um longo período, difícil, estou de volta aos meus posts.

Uma das primeiras coisas que as pessoas perguntam quando nasce uma criança é: Com quem é parecida?

Esta não é uma pergunta inocente apesar das pessoas não se aperceberem disso.

Todos conhecemos o princípio da certeza da maternidade e da incerteza da paternidade. Como sabe o homem que é o pai biológico da criança?

A partir de duas fontes de informação: 1 - certificar-se da fidelidade da mulher na altura da concepção; 2 – verificar a parecença da criança consigo próprio.

De acordo com isto, é razoável pensar que os homens desenvolveram mecanismos psicológicos sensíveis a estas duas fontes de informação; é também razoável esperar que as mulheres tendam a influenciar a percepção dos homens acerca destes aspectos, tentando, por exemplo, convencê-los que foram fiéis e que os filhos recém-nascidos são parecidos com eles.

De facto, existem estudos que mostram que as mulheres realmente estão motivadas a promover a certeza da paternidade dizendo explicitamente ao seu companheiro que os seus filhos recém-nascidos são parecidos com ele, ou seja, que ele é o seu verdadeiro pai. Se fosse apenas o acaso a funcionar, esperar-se-ia que as mães dissessem que os filhos recém-nascidos eram parecidos com os pais em 50% dos casos e nos outros 50% parecidos com elas; mas na realidade isso não acontece pois as mães referem que o bebé é parecido com o pai em 80% dos casos! Também é interessante verificar que os familiares da mãe mostram este enviesamento: 66% diz que o bebé é mais parecido com o pai e apenas 34% refere mais parecenças com a mãe. Ainda mais interessante é verificar que, ao contrário do que seria de esperar, o enviesamento é maior para a família do pai: 71% refere a parecença do bebé com o pai!

E não é tudo. Existe um estudo que sugere a possibilidade de ter havido uma evolução biológica que seleccionou a presença de um “marcador” físico paterno, reconhecível nos filhos. Neste estudo, um certo número de famílias forneceu fotografias dos seus filhos em diferentes idades – 1, 10 e 20 anos. Metade dos filhos eram do género feminino e a outra metade do género masculino. Também foram tiradas fotografias dos pais e das mães. Foi posteriormente pedido aos participantes no estudo (que não conheciam as famílias das fotografias) para tentarem descobrir quem eram os pais e as mães das crianças. Para isso foram-lhes apresentadas, para cada criança, fotografias de 3 mães (uma das quais era a verdadeira) e fotografias de 3 pais (um dos quais era o verdadeiro).

Se as escolhas fossem feitas ao acaso, o resultado correcto seria encontrado em 33.3% dos casos. E foi exactamente isso que aconteceu com as idades de 10 e 20 anos. Já com a idade de 1 ano o resultado foi o seguinte: em 49.2% dos casos os participantes conseguiram associar a criança ao seu verdadeiro pai e isto para as crianças do sexo feminino e do sexo masculino, mas já não foram capazes de associar as crianças às suas mães biológicas!

Estes resultados podem estar relacionados com o facto das mães estarem certas da sua contribuição genética nos seus filhos, quer eles se pareçam ou não com elas; os pais não têm essa certeza.

Em termos evolutivos, se o pai tiver a certeza que o filho é seu, investirá mais nele. Então:
1- os bebés beneficiam em parecer-se mais com o pai biológico
2- a selecção natural deve ter favorecido os homens que possuem marcadores que se expressem visualmente nos seus filhos de modo a saberem que são os verdadeiros pais
3- deve ser vantajoso para as mulheres suprimir nos seus filhos os traços físicos dos seus genes na aparência dos filhos, porque ao fazê-lo farácom que o pai o reconheça como filho

No fundo, os comentários das pessoas em relação às parecenças do recém-nascido, mostram o resultado de muitos milhões de anos de evolução.

Consultas:
Christenfeld, N. J. S., & Hill, E. A. (1995) Whose baby are you? Nature, 378, 669.
Daly, N., & Wilson, M. (1982) Whom are newborn babies said to resemble? Ethology and Sociobiology, 3, 69-78.

9 Comentários:

Blogger Marmorlu disse...

Obrigado pelo tEU comentario... he, he.
Voltarei por aqui quando tenha alguma dúvida médica que resolver...
A Madeira deve ser um bom lugar para viver.
Um abraço

MARMORLU

21/05/2008, 18:10:00

 
Blogger A Professorinha disse...

Já não passava aqui há algum tempo, não sabia do que se tinha passado... espero que as coisas estejam a melhorar...

Quanto ao teu post, tinha um amigo que me dizia que ia pedir o teste de paternidade se algum dia tivesse um filho... lol... que era a única maneira de saber se era dele ou naõ...

Beijinhos

21/05/2008, 23:47:00

 
Blogger Bichodeconta disse...

Pode até ser psicológico, mas quando fiz a primeira ecografia , (a minha filha já tem 25 anos) o que vi, e não sabendo se era menina ou menino, mas dizia eu, o que vi era alguém paracido com a minha avó materna já falecida há 40 anos.. Só vi a Raquel tres dias depois dela nascer de uma cesariana que não correu lá muito bem.. Ela nasceu ao sábado, e eu acordei na terça feira, e quando vi a minha filha eu já conhecia aquele rosto..era o que tinha visto na eco, sem tirar nem por.. Certo que que por alguma razão que desconheço, todos os meus sobrinhos ao nascer, e mesmo pela vida fora tem expressões muito parecidas com a avó Joaquina que já um dia aqui homenagiei.. Como diria o meu pai, o que não tem explicação, explicado está..um abraço, ell

22/05/2008, 20:46:00

 
Anonymous Anónimo disse...

Não é mesmo que os bebés quando nascem se parecem mesmo mais com os pais? Nunca tinha pensado nisso!

23/05/2008, 12:38:00

 
Blogger rui disse...

Olá

Interessante verificar que existe a preocupação depois do nascimento, de fazer a pergunta sobre quem é parecido a criança!
Gostei do tema.

Abraço

23/05/2008, 15:29:00

 
Blogger MMV disse...

Nunca havia prestado muita atenção a isso... Mas sem dúvida que é verdade!

Beijinho e muita força!

25/05/2008, 17:50:00

 
Blogger Maria disse...

Um estudo bem interessante ... obrigada por o teres partilhado connosco.
Aroveitei para ler alguns dos teus posts antigos e aprendi mais algumas coisas tb. Apesar de ser a primeira vez q aqui passo não posso deixar de lamentar a tua perda.
Deixo-te um abraço

26/05/2008, 23:56:00

 
Blogger Berta Helena disse...

Gostei de ler. Fiquei a saber um pouco mais. E é verdade, as pessoas fazem muitas vezes essa pergunta, mas acredito que, pelo manos na maioria das vezes, sem razão.

Beijinhos.

27/05/2008, 11:39:00

 
Blogger Ana Ramon disse...

É bom visitar o cantinho dos amigos. Somos muitas vezes surpreendidos com um texto que nos deixa a pensar, como este. Na verdade nunca tinha pensado nisto.
Depois lembrei-me do momento em que vi o meu primeiro filho acabadinho de nascer, berrando que nem um desalmado e vi nele a cara chapada do meu sogro. Vi eu e todos os que me visitaram logo a seguir. Quando nasceu o meu segundo filho e olhei para ele pela primeira vez, também reconheci um outro rosto.. mas receando que fosse mania minha, perguntei ao meu marido que estava a assistir ao parto, quem é que ele lhe fazia lembrar. E achei piada o meu marido ter dito que se parecia com o meu pai e parecia-se mesmo.
Portanto ambos se pareciam com os seus avôs e nenhum com o pai.. nem comigo.
A natureza tem destas coisas.
Obrigada pela lição tão interessante.
Beijinhos

27/05/2008, 20:56:00

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial