segunda-feira, abril 21, 2008

Bactérias, virus e outros parasitas...

Há muito perdido na história da vida, quando o homem começou a domesticar e a criar animais, iniciou, também, um período de grandes mudanças ambientais. Actualmente, essa actividade humana atinge grandes proporções, como tive oportunidade de referir no post “vacas, clima, obesidade e fome - haverá alguma relação?”. Se pensarmos na forma como actualmente obtemos alimento e na forma como a nossa espécie interage com as outras (estou também a lembrar-me dos alimentos trangénicos), percebemos que nos estamos a expor a novos e imprevisíveis riscos de novas doenças provocadas por organismos.

Fazemos e desfazemos, sem nos preocuparmos com os efeitos das nossas acções nos ambientes onde vivem os nossos inimigos que não vemos: bactérias, virus e outros parasitas. Nem sempre percebemos de que modo estes organismos interagem connosco, com as plantas e com os animais que criamos para a nossa alimentação, nem como interagem entre eles. Infelizmente esta falta de conhecimento tem provado ser muitas vezes fatal.

A SIDA é um exemplo óbvio de como uma mudança social e ambiental pode levar à emergência e à propagação de uma nova doença mortal. Neste caso, as convulsões sociais e a migração de populações humanas ao longo de África, as viagens de negócios e de lazer e as mudanças nos comportamentos sexuais de homo e heterossexuais por todo o mundo, modificaram dramaticamente o “ambiente” tornando-o propício para desencadear a epidemia da SIDA. Mas não é só a SIDA. Existem outros exemplos: a febre hemorrágica do Ebola, a gripe H5N1, a febre amarela, o dengue. Aliás, esta última, assustadoramente próxima (ver meu post “Aedes aëgypty e Dengue” sobre este assunto e outros meus posts afins sobre o mosquito Aedes aegypti), é já um enorme problema no Brasil.


A BSE, vulgarmente conhecida por “doença das vacas loucas”, fornece um outro exemplo de como uma aparentemente mudança inócua na cadeia alimentar resultou na transmissão de uma nova doença entre os humanos, uma variante da Creutzfeldt-Jacob (ver meu post “Creutzfeldt-Jacob, BSE, Scrapie”). No decurso da evolução, os ruminantes, como as vacas e as ovelhas, desenvolveram a sua moderna anatomia e fisiologia, comendo plantas, especialmente, ervas e, à medida que evoluíram também os seus parasitas evoluíram, num processo co-evolutivo. Alguns parasitas que têm como alvos primários os animais de pastagem podem também infectar muitas outras espécies de ruminantes e até mesmo os humanos. Mas a maior parte dos parasitas estão restringidos a um simples hospedeiro primário e muito raramente “saltam” para um novo hospedeiro ou até nunca o fazem.

Geralmente, as relações hospedeiro-parasita permanecem bastante estáveis, a não ser que uma grande mudança ambiental aconteça. Ora acontece que as vacas e as ovelhas permaneceram comedoras de plantas ao longo da história da humanidade, até que, não há muito tempo, os agricultores as começaram a alimentar com suplementos dietéticos contendo os desperdícios de outras vacas e ovelhas. E esta é uma mudança dramática na cadeia alimentar destes animais herbívoros pois transformou as vacas e as ovelhas em animais parcialmente carnívoros ou até mesmo em … canibais!

Qual o resultado?

O que acontece é que enquanto estes desperdícios, utilizados como suplementos alimentares forneciam as proteínas adicionais que favoreciam um crescimento mais rápido das vacas, também abriram novas portas através das quais certos agentes infecciosos puderam cruzar a barreira das espécies, “saltando” das ovelhas para as vacas, propagando-se com extraordinária eficiência por entre as manadas de vacas e “saltando” finalmente para os humanos!

Será este apenas um exemplo? Penso que não. Provavelmente, com todas as mudanças que nós introduzimos nos nossos porcessos de “criar” alimentos, novas, insuspeitas e potenciais ameaças à nossa saúde podem estar à espreita do momento adequado para atacar.

Quando aprenderemos a lição?

Hum…

3 Comentários:

Blogger Bichodeconta disse...

Cá para mim anda ai muita gente com encefalopatia espongiforme.. Desculpa a brincadeira, boa semana, um beijinho, ell

21/04/2008, 16:56:00

 
Blogger MMV disse...

Os suplementos alimentares e as alterações alimentares fazem parte da evolução ou não? Por exemplo o apendice é um orgão vestigial...

22/04/2008, 14:34:00

 
Blogger eu disse...

Baby-boy-swim

Desculpe só agora ter publicado o seu comentário.
É óbvio que os suplementos alimentares não têm nada a ver com evolução… a disponibilidade de alimento, essa sim, tem constituído uma forte pressão selectiva da força evolutiva… veja-se o clássico exemplo dos tentilhões de Darwin.
Como a saúde constitui, hoje em dia, uma preocupação, aparecem os suplementos … o que está em jogo, na verdade, não é a saúde, mas a parte económica …

25/04/2008, 00:38:00

 

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