Aedes aëgypty e Dengue
Em Novembro e Dezembro passados, escrevi alguns posts sobre o Aedes aëgypti, o mosquito vulgarmente conhecido, aqui na Madeira, por “mosquito de Santa Luzia”: A.aëgypti_na_Madeira; Desinfestações; crianças_e_mosquitos; A.aëgypty_ao_vivo; mais_vale_tarde; panfleto; fotografias; Funchal_by_Aedes.
Agora, com a volta da Primavera, com as temperaturas a subir e, não acreditando nas medidas tomadas pelas autoridades sanitárias locais, volto ao assunto que nunca deixou de constituir uma grande preocupação. Um leitor assíduo do meu blog, pergunta: “Estando a Dengue a evoluir imenso no Brasil, isto é Rio de Janeiro, há possibilidade de vir para a Madeira?!” Acho que tocou num ponto importante e que faz lembrar a importância de estarmos informados e conscientes de termos os comportamentos adequados para limitar o número destes insectos e impedir que o vírus do dengue se instale aqui.
Apesar de não ser especialista em insectos, nem especialista em epidemiologia, a minha resposta, de acordo com o que sei da bioecologia do mosquito (uma nota para dizer que sou bióloga e etóloga de formação) é SIM.
Explico o raciocínio simples:
1- O vírus do Dengue é um arbovírus e são conhecidos quatro serotipos: DEN1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4. Todos podem causar quer a forma clássica da doença como a sua forma hemorrágica que é mais grave. No Brasil os mais comuns são os tipos 1 e 2, mas também aparece o tipo 3. O tipo 3 parece ser o mais virulento, seguido do tipo 2, tipo 4 e tipo 1. No entanto o tipo 1 é o que desencadeia grandes epidemias num curto espaço de tempo.
2- O principal vector dos virus do dengue é o mosquito Aedes aëgypti.
3- O mosquito de Santa Luzia é o Aedes aëgypti. Até agora, pelo que se sabe, ainda não existe dengue na Madeira (reparem no termo “ainda”).
4- No Rio de Janeiro a situação de epidemia de dengue está ficando incontrolável, pelo menos a fazer fé nas notícias e contando com o secretismo que sempre as autoridades sanitárias e políticas fazem destes assuntos, para evitarem alarmismos. E não é só no Rio!
5- De há uns tempos para cá ficou de moda fazer viagens ao Brasil ( são baratas!) e o Rio é realmente uma grande atracção e tentação!
6- Quando uma fêmea Aedes aëgypti (os machos alimentam-se de açúcares que extraem das plantas) se alimenta do sangue de uma pessoa infectada, os vírus multiplicam-se no intestino do insecto, passando depois para outros órgãos e para as suas glândulas salivares. Este processo (incubação) leva 8 a 12 dias e apartir daqui fica apto para infectar outras pessoas durante a picada para se alimentar.
7- Existe também a possibilidade de transmitir o vírus logo a seguir se a refeição numa pessoa infectada for interrrompida e picar uma segunda vítima para completar a refeição.
8- Esta fêmea tem a capacidade de produzir ovos já infectados que quando eclodirem produzem uma geração de mosquitos transmissores.
9- Durante a sua vida, mais ou menos 3 meses, a fêmea faz, em média, 10 posturas cada uma com 100 a 150 ovos.
10- Os machos que nascem de ovos infectados também podem transmitir os vírus às fêmeas durante a relação sexual, infectando-as.
11- Algumas estimativas indicam que uma única fêmea pode contaminar até 300 pessoas.
12- Quando uma pessoa é picada por um mosquito infectado (uma fêmea) os vírus introduzidos na sua corrente sanguínea entram no baço, no fígado e nos tecidos linfáticos onde se multiplicam – é o período de incubação que pode durar de 3 a 15 dias ( a média são 5 a 6) e sem nenhum sintoma. Após este período os vírus entram de novo na corrente sanguínea e aparecem os sintomas que são muitas vezes confundidos com uma gripe.
13- Isto quer dizer que pode muito bem entrar na Madeira uma pessoa infectada e sem nenhum sintoma. Provavelmente, se não estiver alertada, não relacionará a “gripe” com uma picada de insecto no Brasil … ou outro local onde exista epidemia de dengue.
14- Como o agente transmissor já cá está, então a possibilidade de transmissão da doença existe, pois a pessoa em questão pode ser picada, aqui, nesse período em que os vírus estão a circular no seu sangue.
15- Devido à capacidade reprodutora e aos hábitos destes insectos, é fácil perceber a gravidade da situação. No entanto, a probabilidade destes “encontros imediatos de 3º grau” acontecerem é baixa e está, obviamente, ligada ao número de insectos presentes no local onde se encontra a pessoa infectada.
Daí a necessidade de, como acima referi, manter a população de A. aëgypti com poucos indivíduos, impedindo a sua reprodução, eliminando os locais de oviposição e criadouros de larvas.
5 Comentários:
Quando vi a reportagem sobre o dengue também pensei na Madeira. Será que já estõa a tomar algumas providências nesse sentido? É que esse clima também é propício...
Fica bem
26/03/2008, 00:23:00
Olá
Hoje aprendi muito sobre este incomodo mosquito e, o vírus do Dengue.
Fiquei mais consciente de que a informação é importante para podermos limitar ou irradiar a proliferação deste preocupante vírus.
Abraço
26/03/2008, 10:52:00
SOS.........................
26/03/2008, 11:31:00
É muito importante estarmos informado acerca desta doença... Espero que não chegue cá!
27/03/2008, 00:40:00
Obrigada pelos esclarecimentos. É sempre bom ouvir alguém que entende do assunto.
A verdade é que a situação me tem deixado um pouco preocupada.
31/03/2008, 17:54:00
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