vacas, clima, obesidade e fome - haverá alguma relação?
Um comentário no meu último post fez-me lembrar que, em tempos (1993), escrevi um artigo para publicar num jornal local que falava exactamente do problema enorme que então nos afligia, e, que nos aflige hoje ainda mais que se prende com a criação e o consumo de carne de vaca. São algumas notas que continuam actuais, apesar de, infelizmente, alguns números apresentados serem hoje em dia muito maiores.
Há mais de 20 anos que não como carne de vaca nem ela entra em minha casa! Vivo muito melhor sem ela. Por todas as razões. E você come carne de vaca?
Se estiverem interessados existe um livro de Jeremy Rifkin, Beyond Beef – The rise and fall of the cattle culture, London, Harper Collins Publishers, 1992, onde recolhi, na altura, muita da informação apresentada.
É este o texto:
Quando vejo as tempestades que assolam o mundo, só me vem à cabeça que em parte, as culpadas são as vacas.
Quando vejo a miséria e a fome neste mundo superlotado, vem-me de novo à cabeça que as culpadas são as vacas.
E como somos nós que criamos as vacas, então, tenho a certeza que os culpados somos NÓS.
A relação entre homens e bovinos remonta à noite dos tempos, desde os nómadas do Neolítico que invadiram o Médio Oriente e a Europa, à procura de novas pastagens para as suas manadas, semeando o terrror entre os povos agrícolas sedentários e mais pacíficos, passando pelo rei Narmer-Menes, (cerca de 3200 anos A.C.) que instaurou o culto do Touro Ápis, nascido de uma vaca fecundada por um raio de lua, e por Cristóvão Colombo que levou para o Novo Mundo, 12 vacas espanholas (em 1870, já havia 13 milhões delas nas pampas da Argentina), até os 1,2 bilhiões de bovinos que actualmente existem sobre a Terra e cujo peso é superior ao peso das pessoas, ocupam quase 24% dos solos e consomem cereais que poderiam alimentar centenas de milhar de pessoas.
Para criar uma vaca é necessário alimentá-la com ervas e depois engordá-la, normalmente com um cereal. É o que acontece com alguns 100 milhões de bovinos americanos que primeiro são alimentados no pastos e depois engordados com milho; estas vacas comem 220 milhões de toneladas de milho por ano, duas vezes mais que a população humana deste país. Segundo Rifkin, 600 milhões de toneladas de grão são utilizadas por ano no mundo, para a alimentação do gado. Em vez disso, poder-se-ia plantar alimento para mil milhões de pessoas.
Nos anos sessenta, muitos países da América do Sul, com a ajuda do Banco Mundial e do Banco Inter-Americano para o Desenvolvimento, começaram a transformar milhões de hectares de floresta tropical e de terras agrícolas, em pastagens para engordar o gado destinado ao mercado internacional. Na América do Sul, existem 9 vacas para 10 homens e na Austrália 14 bovinos para 10 homens. Segundo Rifkin, esta “bovinização" faz parte de um objectivo das grandes multinacionais para criar um mercado mundial único para a produção e distribuição da carne de vaca. Com 22% da produção, os E.U. dominam o mercado e detêm o record de todas as categorias de consumo de carne: cada cidadão americano consome na sua vida, 7 vacas de 500 Kg, ou seja, duas vezes mais que o europeu e dez vezes mais que o japonês.
Este actual consumo de carne representa um esbanjamento, num mundo onde domina a miséria, porque ao consumir carne se está a perder grande quantidade de energia que de outro modo daria para alimentar muito mais pessoas. Para compreeender a enormidade do problema, é necessário examinar a biologia das cadeias alimentares e compreender como elas são manipuladas e deformadas para servir os nossos interesses.
Imaginemos a cadeia alimentar erva – gafanhoto – rã – truta – homem. Percebe-se neste esquema que os gafanhotos se alimentam de ervas, que as rãs comem gafanhotos, que as trutas comem as rãs e que nós, por fim, comemos as trutas.
Se forem necessárias 300 trutas para alimentar um homem, durante 1 ano, são necessárias 90.000 rãs para alimentar essas trutas, 27 milhões de gafanhotos para alimentar as rãs e cem mil toneladas de erva para alimentar os gafanhotos. Isto porque em cada etapa da cadeia há uma perda de 80 a 90% da energia alimentar, o que significa que apenas 10 a 20% da energia é transferida para o elo seguinte. Ora os bovinos são os “conversores de energia” menos eficazes: para fazerem 50 Kg de proteína necessitam consumir 790 Kg de proteína vegetal.
Além disso, o gado liberta grande quantidade de metano, um gás que contribui para o efeito de estufa, com as consequente alterações do clima em todo o mundo. Os animais produzem metano de dois modos: 1- pela digestão, 2 – pelas dejecções, ou melhor, pela maneira como o homem gere estas últimas.
O alimento ingerido pelos bovinos fermenta no seu estômago, que é formado por várias cavidades sucessivas, onde proliferam milhares de bactérias, dando origem ao metano “digestivo” - 4 a 10% da energia bruta ingerida perde-se na forma de metano. Nos animais monogástricos (com um só estômago como o porco) a perda é menor, entre 0,5 e 2%. A quantidade produzida depende naturalmente do tamanho do animal e do seu modo de alimentação (um animal alimentado com alimentos compostos ingere mais energia que um animal na pastagem).
No total, 74 milhões de toneladas de metano são lançadas cada ano para atmosfera pelos criadores de gado. Destes, 74% são imputáveis aos bovinos, 8 a 10% aos carneiros e aos búfalos, o resto aos porcos, cavalos, mulas, camelos, burros e aves. Hoje em dia alimentamos vacas de modo a produzirem mais carne e mais leite e em consequência disso a quantidade de metano libertada é maior. Os números falam por si: em 1983 um bovino médio libertava, em média, 35 Kg de metano por ano; em 1990, libertava 45 Kg.
Mas não é só a digestão que liberta metano; a gestão dos dejectos animais liberta mais metano. O paradoxo é que estas emanações nocivas para a tmosfera resultam precisamente de medidas de protecção ambiental. Com efeito, para lutar contra a poluição das águas pelos nitratos, incitou-se os proprietários de culturas intensivas de gado ( especialmente de porcos) a não espalhar os seus dejectos sobre as superfícies ( terras ou pradarias) mas a armazená-los o maior tempo possível em cubas estanques. Infelizmente estes dejectos fermentam na ausência do ar e libertam tanto mais metano quanto maior for o período de armazenagem (particularmente no Verão, onde a temperatura ambiente reforça a produção de metano).
Muito havia a dizer acerca do avanço da desertificação que é causada pelo pasto em demasia, pelo excessivo cultivo, pela desflorestação e por técnicas impróprias de regadio, constituindo a produção de gado o factor com mais peso em todas estas causas.
Então, além de aumentarem a quantidade de metano na atmosfera, as vacas são também responsáveis pela erosão dos solos, pela destruição das florestas tropicais ( na Amazónia, milhões de hectares de floresta tropical foram trnasformados em pastagens para engordar manadas destinadas ao mercado internacional), pelo esgotamento dos recursos de água, além de terem criado a civilização de obesos, enchendo-nos de colesterol, cancros e de doenças cardio-vasculares, tornando-nos os mais gordos de toda a história da humanidade.
Por outro lado o culto moderno da vaca, leva à divisão do mundo entre os que a comem ( e que por ficarem gordos gastam tempo, dinheiro e energia emocional para emagrecerem) e os que não a podem comer (que vêm os seus corpos irremediavelmente raquíticos, parasitados, doentes, intelectualmente diminuidos), contribuindo assim para o racismo e a descriminação social.
Por tudo isto é urgente “salvar o mundo destes animaizinhos” (ou melhor dos que os criam!); bastaria para issso que cada um de nós decidisse comer duas vezes menos carne de vaca que antes. Talvez houvesse ainda alguma esperança para a humanidade!
Nem sequer foi preciso falar nas “vacas loucas”.
Há mais de 20 anos que não como carne de vaca nem ela entra em minha casa! Vivo muito melhor sem ela. Por todas as razões. E você come carne de vaca?
Se estiverem interessados existe um livro de Jeremy Rifkin, Beyond Beef – The rise and fall of the cattle culture, London, Harper Collins Publishers, 1992, onde recolhi, na altura, muita da informação apresentada.
É este o texto:
Quando vejo as tempestades que assolam o mundo, só me vem à cabeça que em parte, as culpadas são as vacas.
Quando vejo a miséria e a fome neste mundo superlotado, vem-me de novo à cabeça que as culpadas são as vacas.
E como somos nós que criamos as vacas, então, tenho a certeza que os culpados somos NÓS.
A relação entre homens e bovinos remonta à noite dos tempos, desde os nómadas do Neolítico que invadiram o Médio Oriente e a Europa, à procura de novas pastagens para as suas manadas, semeando o terrror entre os povos agrícolas sedentários e mais pacíficos, passando pelo rei Narmer-Menes, (cerca de 3200 anos A.C.) que instaurou o culto do Touro Ápis, nascido de uma vaca fecundada por um raio de lua, e por Cristóvão Colombo que levou para o Novo Mundo, 12 vacas espanholas (em 1870, já havia 13 milhões delas nas pampas da Argentina), até os 1,2 bilhiões de bovinos que actualmente existem sobre a Terra e cujo peso é superior ao peso das pessoas, ocupam quase 24% dos solos e consomem cereais que poderiam alimentar centenas de milhar de pessoas.
Para criar uma vaca é necessário alimentá-la com ervas e depois engordá-la, normalmente com um cereal. É o que acontece com alguns 100 milhões de bovinos americanos que primeiro são alimentados no pastos e depois engordados com milho; estas vacas comem 220 milhões de toneladas de milho por ano, duas vezes mais que a população humana deste país. Segundo Rifkin, 600 milhões de toneladas de grão são utilizadas por ano no mundo, para a alimentação do gado. Em vez disso, poder-se-ia plantar alimento para mil milhões de pessoas.
Nos anos sessenta, muitos países da América do Sul, com a ajuda do Banco Mundial e do Banco Inter-Americano para o Desenvolvimento, começaram a transformar milhões de hectares de floresta tropical e de terras agrícolas, em pastagens para engordar o gado destinado ao mercado internacional. Na América do Sul, existem 9 vacas para 10 homens e na Austrália 14 bovinos para 10 homens. Segundo Rifkin, esta “bovinização" faz parte de um objectivo das grandes multinacionais para criar um mercado mundial único para a produção e distribuição da carne de vaca. Com 22% da produção, os E.U. dominam o mercado e detêm o record de todas as categorias de consumo de carne: cada cidadão americano consome na sua vida, 7 vacas de 500 Kg, ou seja, duas vezes mais que o europeu e dez vezes mais que o japonês.
Este actual consumo de carne representa um esbanjamento, num mundo onde domina a miséria, porque ao consumir carne se está a perder grande quantidade de energia que de outro modo daria para alimentar muito mais pessoas. Para compreeender a enormidade do problema, é necessário examinar a biologia das cadeias alimentares e compreender como elas são manipuladas e deformadas para servir os nossos interesses.
Imaginemos a cadeia alimentar erva – gafanhoto – rã – truta – homem. Percebe-se neste esquema que os gafanhotos se alimentam de ervas, que as rãs comem gafanhotos, que as trutas comem as rãs e que nós, por fim, comemos as trutas.
Se forem necessárias 300 trutas para alimentar um homem, durante 1 ano, são necessárias 90.000 rãs para alimentar essas trutas, 27 milhões de gafanhotos para alimentar as rãs e cem mil toneladas de erva para alimentar os gafanhotos. Isto porque em cada etapa da cadeia há uma perda de 80 a 90% da energia alimentar, o que significa que apenas 10 a 20% da energia é transferida para o elo seguinte. Ora os bovinos são os “conversores de energia” menos eficazes: para fazerem 50 Kg de proteína necessitam consumir 790 Kg de proteína vegetal.
Além disso, o gado liberta grande quantidade de metano, um gás que contribui para o efeito de estufa, com as consequente alterações do clima em todo o mundo. Os animais produzem metano de dois modos: 1- pela digestão, 2 – pelas dejecções, ou melhor, pela maneira como o homem gere estas últimas.
O alimento ingerido pelos bovinos fermenta no seu estômago, que é formado por várias cavidades sucessivas, onde proliferam milhares de bactérias, dando origem ao metano “digestivo” - 4 a 10% da energia bruta ingerida perde-se na forma de metano. Nos animais monogástricos (com um só estômago como o porco) a perda é menor, entre 0,5 e 2%. A quantidade produzida depende naturalmente do tamanho do animal e do seu modo de alimentação (um animal alimentado com alimentos compostos ingere mais energia que um animal na pastagem).
No total, 74 milhões de toneladas de metano são lançadas cada ano para atmosfera pelos criadores de gado. Destes, 74% são imputáveis aos bovinos, 8 a 10% aos carneiros e aos búfalos, o resto aos porcos, cavalos, mulas, camelos, burros e aves. Hoje em dia alimentamos vacas de modo a produzirem mais carne e mais leite e em consequência disso a quantidade de metano libertada é maior. Os números falam por si: em 1983 um bovino médio libertava, em média, 35 Kg de metano por ano; em 1990, libertava 45 Kg.
Mas não é só a digestão que liberta metano; a gestão dos dejectos animais liberta mais metano. O paradoxo é que estas emanações nocivas para a tmosfera resultam precisamente de medidas de protecção ambiental. Com efeito, para lutar contra a poluição das águas pelos nitratos, incitou-se os proprietários de culturas intensivas de gado ( especialmente de porcos) a não espalhar os seus dejectos sobre as superfícies ( terras ou pradarias) mas a armazená-los o maior tempo possível em cubas estanques. Infelizmente estes dejectos fermentam na ausência do ar e libertam tanto mais metano quanto maior for o período de armazenagem (particularmente no Verão, onde a temperatura ambiente reforça a produção de metano).
Muito havia a dizer acerca do avanço da desertificação que é causada pelo pasto em demasia, pelo excessivo cultivo, pela desflorestação e por técnicas impróprias de regadio, constituindo a produção de gado o factor com mais peso em todas estas causas.
Então, além de aumentarem a quantidade de metano na atmosfera, as vacas são também responsáveis pela erosão dos solos, pela destruição das florestas tropicais ( na Amazónia, milhões de hectares de floresta tropical foram trnasformados em pastagens para engordar manadas destinadas ao mercado internacional), pelo esgotamento dos recursos de água, além de terem criado a civilização de obesos, enchendo-nos de colesterol, cancros e de doenças cardio-vasculares, tornando-nos os mais gordos de toda a história da humanidade.
Por outro lado o culto moderno da vaca, leva à divisão do mundo entre os que a comem ( e que por ficarem gordos gastam tempo, dinheiro e energia emocional para emagrecerem) e os que não a podem comer (que vêm os seus corpos irremediavelmente raquíticos, parasitados, doentes, intelectualmente diminuidos), contribuindo assim para o racismo e a descriminação social.
Por tudo isto é urgente “salvar o mundo destes animaizinhos” (ou melhor dos que os criam!); bastaria para issso que cada um de nós decidisse comer duas vezes menos carne de vaca que antes. Talvez houvesse ainda alguma esperança para a humanidade!
Nem sequer foi preciso falar nas “vacas loucas”.
6 Comentários:
Eu tive na cadeira Bioética e abordei esse assunto! E esse é o principal motivo dos vegetarianos e aquele que eu considero mais válido.
Falta referir que por ano são "mortos" hectares da floresta Amazonica para plantar soja, que é o suplemento das proteínas para os vegetarianos. E mesmo essas proteínas nunca substituem por completo as da carne...
Eu como carne, até há pouco tempo em excesso... Já que em Janeiro descobri ter calculos renais causados por carne vermelha e derivados do leite...
Por isso na minha opinião: o importante é ter uma alimentação equilibrada seja carne, vegetais e etc...
10/03/2008, 18:17:00
Isto é... seguir a roda dos alimentos ou piramide...
10/03/2008, 18:17:00
Eu ando numa de carne de porco... vá... eu até tentei ser vegetariana... mas lamento... é mais forte do que eu. Mas tento sempre comer peixo mais do que uma vez por semana, o que já é uma vitória para mim, que nunca comia peixe!...
Fica bem
10/03/2008, 23:04:00
Foi com interesse que li este seu post, e é com preocupação que afirmo: quem me dera conseguir deixar de comer carne de vaca!
10/03/2008, 23:56:00
Descobri por acaso este Doce de Laranja. Penso que através do blog do Rui e chamou-me a curiosidade. Fiquei agradávelmente surpreendida. Penso visitá-la mais vezes.
12/03/2008, 10:48:00
Olá
Impressionate!
E eu que apesar de comer muito peixe, sou adepto da carne (espetadas e churrasco), adoro fazer ao fim de semana!
Foi bom tomar conhecimento de certos factos, até agora ignorados.
Grande abraço
Olha a minha amiga (escritora) Berta por aqui!
Recomendo o livro por ela escrito "Lenços Brancos"..., é o máximo!
14/03/2008, 15:12:00
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